11 de jan. de 2014

AS EMENDAS QUE DENUNCIAM O SONETO

A edição 396 do Jornal da ABI que circulou no mês de dezembro passado reproduz, com alguns acréscimos, uma nota publicada no site oficial da instituição e que, ao que parece, foi excluída das páginas e do arquivo do veículo, mas que tivemos a precaução de imprimir. De qualquer forma, fazemos aqui uma análise detalhada do texto da matéria, que soa quase como uma evidência de culpa, embora tivesse a intenção atrapalhada de ser uma justificativa para os acontecimentos que vem turvando a honra da entidade. 

Vamos começar pelo pé da matéria publicada no site e que ainda pode ser lida na versão impressa. É que antes de analisar as sinuosas justificativas com que, ao longo do texto, o grupelho tenta se eximir da culpa no golpe que impediu a posse do vice-presidente  da ABI, Tarcísio Holanda, queremos mostrar o nível absurdo da incompetência que, agravada pela ma-fé, caracteriza aqueles que estão mantendo a ABI refém de interesses menores. 

No final da matéria, eles tentam justificar a falcatrua que armaram para confundir os associados, dificultando o comparecimento de eventuais opositores na reunião extraordinária irregular que convocaram para mais uma vez tentar legitimar o golpe promovido na reunião do dia 29 de outubro, quando impediram que o vice-presidente da ABI assumisse o cargo deixado vago com a mote de Maurício Azêdo. Confundindo as datas nas diversas comunicações publicadas, mantiveram a reunião restrita ao pequeno grupo de conselheiros sub judice e a uns poucos aliados da vergonhosa trama. A justificativa é de que cometeram erros na divulgação das datas – erros, muitos erros, como pode ser visto nesta mal disfarçada confissão de culpa que eles mesmos publicaram no site:

Esta assembleia foi originariamente convocada para o dia 29 de novembro, às 10h. Ocorre que ela não foi publicada como deveria no Diário Oficial e em jornal de grande circulação. O Edital, por erro, foi publicado apenas no Jornal do Commercio. Diante disso, foi necessária uma nova publicação no Diário Oficial e no Jornal do Commercio e a data foi alterada para o dia 3 de dezembro, às 10 horas, horário em que são feitas todas as assembleias. Nessa questão, vale salientar que foram cometidos dois erros:
1 – O Jornal da ABI é editado em São Paulo e o editor Francisco Ucha publicou o Edital antigo, no qual a convocação era para o dia 29 de novembro; 2 – quando percebemos o erro, solicitamos ao Diretor Cultural da ABI que fizesse uma carta de correção a ser encaminhada ao corpo social. Infelizmente o Diretor errou no horário, colocando às 14 horas ao invés de 10h. No entanto, vale salientar ainda que o site da ABI (www.abi.org.br) publicou a convocação com a data e horário certos durante 30 dias".

Vejam agora o restante da nota,  onde se poderá perceber as digitais dos patrocinadores dessa patuscada:

Maurício Azêdo faleceu no dia 25 de outubro. Passado o luto, ainda sob o efeito da perda, surgiu uma questão urgente: quem estatutariamente o substituiria? Na dúvida, a Diretoria resolveu consultar o escritório de advocacia Siqueira Castro que já representava a entidade.

A “dúvida”, meus amigos,  é a prova inconteste do conluio que aguardava, como ave de rapina, a morte do presidente para tomar de assalto a ABI. Como poderia haver “dúvida” sobre a pertinência da condução do vice-presidente ao cargo vago? A “questão urgente” a que se referem no texto foi a de saber como dar um golpe sorrateiro sem serem flagrados na pequenez da intenção que os movia. E foi para isso que pediram o aval discursivo do escritório de advocacia mais prestigiado do país – para travestir de legalidade uma ação ilegítima, que fere a honra da instituição e mostra às escancaras o caráter de quem a patrocinou. Para saber como deveriam se comportar diante da morte do presidente, bastava ler a história das sucessões na Associação Brasileira de Imprensa. (Clique aqui e saiba mais).

Em reposta à consulta para dirimir a “questão urgente”, o texto da advogada Maria Arueira Chaves, do escritório de advocacia Siqueira e Castro, diz o seguinte em sua primeira linha, conforme publicado no site:

O Estatuto da ABI não estabelece qualquer previsão específica acerca da sucessão do cargo de Presidente. No entanto...”.

E é a partir deste “no entanto” que a advogada começa a discorrer sobre o real motivo da consulta: as possíveis interpretações do texto do Estatuto para camuflar o golpe com a capa da legalidade. Em seguida às interpretações ambíguas da advogada, os ocupantes da ABI publicam o trecho do Estatuto que foi analisado pela advogada, como que para convencer os leitores da legitimidade de seus atos. Tomaram o “parecer” como norma de conduta, contrariando a tradição de respeito às regras democráticas que sempre distinguiram a entidade. No texto escorregadio do site, ofendem a inteligência dos eventuais leitores ao dizerem que a reunião ordinária do Conselho, em que deram o golpe, já estava prevista no calendário regular da entidade.

Permitam-nos um rápido parêntese para relembrar os fatos dessa “reunião ordinária” do dia 29 de outubro:

1. O presidente Maurício Azêdo havia morrido apenas quatro dias antes, motivo mais do que justificado para se adiar uma reunião regular que aconteceria em luto;
2. Nesta mesma reunião que resolveram manter, em momento algum se fez qualquer menção ao presidente morto; nem mesmo um minuto de silêncio. Ao contrário, promoveu-se um tumulto descontrolado na intenção do golpe;
3. A reunião ordinária foi ilegalmente transformada em reunião extraordinária para consumar o golpe que impediria a posse do vice, que viera de Brasília exatamente para assumir a responsabilidade que lhe cabia.

Voltando ao texto publicado no site da ABI, veja a descrição que fazem daquela reunião:

O Estatuto da ABI não estabelece qualquer previsão específica acerca da sucessão do cargo de Presidente. No entanto, O Estatuto, em seus artigos 21, II e 41, I, estabelece a competência da Assembleia Geral, como órgão soberano, para a eleição do Diretor Presidente. Além disso, o Estatuto prevê, em seu artigo 29, VII, que ao Conselho Deliberativo, como órgão superior da administração da ABI, compete preencher cargos da Diretoria, em caso de vacância. Nesse contexto, é importante registrar que o Estatuto, ao estabelecer as funções de Vice-Presidente, não determina que o mesmo sucederá o Presidente, mas apenas que este irá substituir o Presidente em caso de impedimento. Assim, pode-se entender que, em caso de ausência temporária do Presidente, o Vice-Presidente assumirá suas funções. No caso de falecimento, entendemos que não se trata da hipótese de mero impedimento, mas sim de vacância”.


A malícia com que interpretaram o texto do Estatuto e a forma como agora tentam convencer os leitores e associados através dos veículos oficiais da entidade mereceriam uma nova ação na justiça - desta vez por danos morais! Mas não para por aí. Vejam este parágrafo (o erro no texto é do original publicado): 

"Conforme comprova  a Ata dessa reunião, o Presidente do Conselho Pery Cotta declarou a vacância do cargo de diretor-presidente, de acordo com o artigo 29 o cargo de Diretor-Presidente (sic). Dessa forma, nada impediria que Tarcísio Holanda fosse designado pelo Conselho Deliberativo. Entretanto, como ele reside em Brasília, tem família em Brasília e emprego em Brasília, o Conselho achou por bem eleger o Diretor Administrativo Fichel Davit Chargel para o referido cargo.

Vejam que até mesmo as aves de rapina confirmam que “nada impediria” que o vice -presidente assumisse o cargo. Nada, a não ser um golpe sórdido, combinado entre o grupelho de conselheiros sub judice e escorado na desculpa esfarrapada do local de residência do jornalista. Tarcício Holanda deslocou-se de Brasília ao Rio para assumir o cargo e conduzir a entidade à próxima eleição, conforme decidido em tutela antecipada da Justiça (veja detalhes aqui). Como poderia estar impedido de assumir por causa da distância? E em que regra estatutária se basearam para decidir isso? A ABI é uma instituição nacional e não regional, ou ainda local como querem fazer dela.

Tarcísio Holanda foi humilhado por aquele conselho nanico; foi escorraçado por uma horda enfurecida que disparava impropérios sem saber nem mesmo a que e a quem queriam ofender e o que exatamente estavam defendendo. E o maior de todos os cúmulos:  Hollanda foi pressionado a renunciar pelo próprio presidente sub judice do Conselho, Pery Cotta, escoltado por conselheiros igualmente sub judice.

Pensem bem, meus amigos: qual era mesmo a “questão de urgência” sobre a qual eles tinham “dúvidas”? A urgência somente poderia ser instalada se o vice-presidente houvesse declarado que não assumiria o cargo, o que não aconteceu em momento algum. Repetimos: o jornalista Tarcísio Holanda foi à reunião da entidade, no Rio, para assumir o cargo de presidente da Associação Brasileira de Imprensa! E foi impedido por um golpe (veja detalhes aqui).

E no final da matéria que publicaram no site da ABI, eles ainda tentam promover um golpe na inteligência dos leitores e associados, ao admitirem que "erraram" seguidamente nos textos de convocação da assembleia irregular. 

Não fosse por mais nada, mereciam perder os registros de jornalistas por incapacidade técnica de produzir uma simples nota!










3 de jan. de 2014

SAIBA QUEM FORAM OS PRESIDENTES

"Toda instituição é a sombra alongada de um homem"
(Emerson)

GUSTAVO DE LACERDA (1908/1909)

Autor das bases do estatuto da entidade que mais tarde se tornaria a ABI, Gustavo de Lacerda criou a Associação de Imprensa,  da qual foi aclamado Presidente, em 7 de abril de 1908. A criação de uma agremiação que lutasse pelos interesses dos jornalistas sempre foi um ideal de Lacerda, que chegou a ser apontado como inculto e visionário. No entanto, do programa de fundação da ABI constam reivindicações que hoje são a base da regulamentação da profissão e das faculdades de Comunicação Social.


FRANCISCO SOUTO (1909/1910)


Com a morte de Gustavo de Lacerda, seu vice, Francisco Souto, assumiu a Presidência para completar o mandato do colega, num momento em que a associação passava por uma crise de prestígio e sofria boicote de quase todos os donos de jornais — alguns chegavam a proibir seus funcionários de participarem da instituição.




DUNSHEE DE ABRANCHES (1919/1911 - 1911/1913)

João Dunshee de Abranches Moura foi empossado na Presidência da ABI em 13 de maio de 1910, com o apoio integral do grupo que controlava a Associação e prometendo defender a liberdade de pensamento a qualquer custo. Em 1911, foi reeleito para mais dois anos de mandato. Durante sua administração, várias providências foram tomadas, como a reforma estatutária, aprovada pela Assembléia-Geral de 23 de janeiro de 1911, e a mudança de nome para Associação de Imprensa dos Estados Unidos do Brasil. 

BELISÁRIO DE SOUZA (1913/1915 - 1915/1916)
O jornalista Belisário de Souza tinha apenas 27 anos de idade quando substituiu Dunshee de Abranches na Presidência da instituição que, por sua iniciativa, ganhou o nome atual: Associação Brasileira de Imprensa. Jovem entusiasmado pela política, Belisário teve uma administração atribulada, sem que conseguisse, de imediato, conciliar as correntes antagônicas que circulavam na ABI e que acabaram por levá-lo a renunciar ao cargo. Em seu lugar assumiu o Vice-presidente Raul Pederneiras. 

RAUL PEDERNEIRAS (1915/1917 - 1920/1926)

Com a renúncia de Belisário de Souza, Raul Pederneiras assumiu o cargo de Presidente e deve-se a ele renascimento da ABI nos moldes operacionais. Com ele a instituição adquiriu personalidade jurídica, fazendo registrar todos os livros da tesouraria no Tesouro Nacional. Além de atos administrativos e outros de relevância para a Associação, Pederneiras pleiteou aos Governos Municipal e Federal o título de utilidade pública, que somente foi conferida à ABI na gestão seguinte.


JOÃO GUEDES DE MELO (1917/1920)

João Guedes de Melo dedicou-se à fundação do Retiro dos Jornalistas, num terreno da Associação no bairro de Heliópolis, e à concretização do Congresso Brasileiro de Jornalistas, da Escola de Jornalistas, além do desenvolvimento do serviço de auxílio e assistência aos sócios. Durante sua administração, o Governo Federal isentou a ABI de todos os impostos, emolumentos e contribuições municipais e sobre a aquisição de qualquer título, construção e manutenção de imóveis, como sua sede, ou qualquer outro estabelecimento concernente aos propósitos da Associação.

ALEXANDRE BARBOSA LIMA SOBRINHO 

(1926/1927 -1930/1932 -1978/20000)
Durante seus 103 anos de vida, Barbosa Lima Sobrinho exerceu três mandatos na Presidência da ABI, à qual se dedicou até a sua morte, em 2000. Advogado, jornalista, ensaísta, historiador, político e professor, eleito para a Cadeira nº 6 da Academia Brasileira de Letras aos 50 anos de idade, nasceu em Recife, onde estreou como jornalista colaborando com o Diário de Pernambuco. No Rio, onde chegou 1921, deu continuidade à carreira no JB. Quando assumiu pela primeira vez a Presidência da ABI, Barbosa Lima Sobrinho já revelava seu dinamismo: convocou uma assembléia-geral para reformar os estatutos, regulamentou a concessão da carteira de jornalista e título de sócio e estabeleceu intercâmbio com as associações de imprensa dos Estados, proporcionando a integração dos jornalistas em todo o País. Foi também incansável nas negociações junto à Prefeitura do antigo Distrito Federal para que a ABI conseguisse a posse definitiva da área do Castelo doada pelo Conselho Municipal e promoveu um inquérito nacional a respeito da lei de imprensa, cognominada “Lei Infame”. Ao voltar a presidir a ABI de 1930 a 1931, empenhou-se outra vez na reivindicação da aquisição do terreno — que acabou sendo cedido pelo Prefeito Pedro Ernesto na administração de Herbert Moses, em 1932. No seu segundo mandato, preocupou-se igualmente com a unidade da classe jornalística, que se encontrava dividida entre a ABI, o Clube da Imprensa e a Associação da Imprensa Brasileira. A proposta de unir todas numa só incluía sua renúncia. Plano aceito, um protocolo foi redigido e Herbert Moses foi escolhido para substituí-lo. Sem jamais abandonar o jornalismo, Barbosa Lima Sobrinho foi Deputado federal, Governador de Pernambuco e Procurador do Rio de Janeiro, então capital do País. Em 1964, retornou à ABI — onde ocupou cargos diversos — consolidando o seu devotamento às causas da classe jornalística e à liberdade de imprensa. Quando morreu, foi citado por colegas e admiradores com os mais emocionados elogios, por toda a sua vida e por sua brilhante passagem pela Casa do Jornalista.
GABRIEL LOUREIRO BERNARDES (1927/1928)
Em junho de 1927, Gabriel Loureiro Bernardes assumiu a Presidência da ABI para um mandato de um ano, deixando claro que daria prioridade à instalação da nova sede, sem descuidar das melhorias das instalações provisórias, à Rua do Rosário, 172, ao lado do jornal matutino A Vanguarda. 




MANUEL PAULO FILHO (1929/1929)

Segundo Edmar Morel, a eleição de Manuel Paulo Filho aconteceu num momento em que a classe jornalística se encontrava desunida, após um período de paz na gestão de Barbosa Lima Sobrinho. As dificuldades para edificar a sede definitiva da Associação numa área do antigo Morro do Castelo, doada pelo Conselho Municipal, prejudicou ainda mais seu trabalho à frente da ABI. Mesmo assim, a administração de Paulo Filho teve iniciativas relevantes, como a intervenção junto ao Congresso para a organização das Caixas de Pensões e Aposentadorias, que funcionariam como seguro social para os trabalhadores da imprensa.
ALFREDO NEVES (1929/1930)
Quando assumiu o cargo de Presidente da ABI, Alfredo da Silva Neves tinha 49 anos e era jornalista, médico, político e funcionário público. O período era agitado no meio jornalístico, com a imprensa dividida em dois grupos: o que apoiava a Aliança Liberal — em especial O JornalCorreio da ManhãDiário de NotíciasDiário Carioca e Jornal do Commercio — e o que apoiava o Governo de Washington Luís. Foi difícil manter a ABI neutra num episódio que agitava todo o País, mas ele conseguiu organizar uma comissão de juristas para defender os associados ameaçados, ao mesmo tempo em que se manteve firme na luta para recuperar o fôlego financeiro da instituição e fez reformulações no Estatuto, introduzindo, entre outras, modificações que privilegiavam as necessidades sociais. No fim do seu mandato, Alfredo Neves indicou Barbosa Lima Sobrinho para substituí-lo e fez um discurso no qual reafirmava o papel social da ABI.
HERBERT MOSES (1931/1946)
Filho de pai austríaco e mãe norte-americana, o carioca Herbert Moses foi eleito Presidente da ABI concorrendo com Ernesto Pereira Carneiro, do Jornal do Brasil, e Oscar Costa, do Jornal do Commercio. Além de ter sido redator da Revista Souza Cruz e secretário da Associação Comercial — onde se tornou amigo de Heitor Beltrão, seu braço direito na Associação —, dirigiu a Revista Moderna e acompanhou Irineu Marinho na fundação do jornal O Globo, em 1925. Segundo Fernando Segismundo, o bom relacionamento de Herbert com as autoridades — a quem recorria a qualquer hora até para livrar jornalistas da cadeia — transformou a sede da ABI, na Rua do Passeio, a ante-sala do Itamaraty. No primeiro ano de sua administração, apesar da censura à imprensa e das prisões de jornalistas, a instituição passou por uma grande reformulação, tendo sido conseguida, inclusive, a oficialização da doação do terreno Morro do Castelo. Bom negociador, Herbert conseguiu que Getúlio Vargas prometesse substancioso auxílio financeiro para o início da construção da sua sede própria, fizesse uma doação inicial de 13 mil contos de réis e criasse os primeiros cursos de Jornalismo. Em 1946, também o Presidente Dutra contribuiu para as obras, mandando o Ministério da Justiça abrir um crédito de 2 milhões de cruzeiros para que a Associação providenciasse os serviços de acabamento do prédio. No entanto, mesmo correndo o risco de abalar essas boas relações, em nenhum momento de sua administração Herbert Moses consentiu que a ABI se intimidasse e deixasse de se pronunciar a respeito da violação dos direitos de jornalistas e da liberdade de imprensa. O período é considerado a grande fase construtiva da instituição e ele, na visão de amigos e colaboradores, figura como o consolidador material e espiritual da Casa do Jornalista. Nos registros da própria ABI, ele aparece como o homem que “tornou a fundação de Gustavo de Lacerda conhecida e respeitada dentro e fora do País. Arrancou-a, por fim, dos apertados limites das salas de aluguel para lhe dar uma sede imponente, bela, confortável, moderna como poucas nestas Américas. Tudo isso, obra da sua dedicação, do seu entusiasmo, da sua energia”.
CELSO KELLY (1964/1966)
Amigo de Herbert Moses, Celso Kelly o sucedeu na Presidência da ABI, onde já havia integrado o júri que escolheu o projeto dos irmãos M.M.M. Roberto para a sua sede social, considerada pioneira da arte moderna na América do Sul. O período político brasileiro era crítico e a Comissão de Defesa de Liberdade de Imprensa teve muito trabalho — a todo instante eram enviados ofícios às autoridades do Governo, pedindo a liberdade de jornalistas presos.Em meio a tudo isso, a ABI ainda conseguiu promover três concursos jornalísticos e realizar um seminário em que foram debatidos os problemas do ensino do Jornalismo, dele resultando a Declaração do Rio de Janeiro, que insistia nos aspectos essenciais da profissão: “Liberdade de opinião e expressão com a conseqüente responsabilidade dos emissores — no caso, autor e veículo; a informação autêntica, como direito de todos; e a facilitação do acesso dos jornalistas às suas fontes.”Nomeado diretor-geral do Departamento Nacional de Ensino do Ministério da Educação, Celso Kelly renunciou ao cargo de Presidente da ABI em 9 de fevereiro de 1966, a três meses de completar seu mandato.
ELMANO CRUZ (1966/1974)

Em 1966, Elmano Cruz esteve à frente da ABI por pouco tempo, o suficiente para completar o mandato de Celso Kelly. Já em 1974, substituiu Adonias Filho, num mandato que durou até agosto de 1975. Apesar das curtas passagens pela Presidência, foi considerado um dos líderes mais resolutos da Associação. Se faltava dinheiro para o cumprimento das despesas administrativas, não se furtava a recorrer aos amigos para concluir seus projetos, vários dos quais resultaram em mais conforto nas instalações da Casa. Combatido por uns e elogiado por outros, Elmano Cruz, segundo Edmar Morel, muitas vezes pagava despesas do próprio bolso. Mesmo quando adoeceu, manteve-se como um presidente lutador à frente da ABI, até seu estado de saúde se agravar demais. A 27 de agosto de 1975, numa das mais agitadas sessões do Conselho Administrativo, renunciou ao cargo.
DANTON JOBIM (1966/1972)
Eleito pela primeira vez Presidente da ABI em 1966 e tendo cumprido mandato até 1972, Danton Jobim foi novamente eleito em 1978, mas morreu duas semanas após o pleito e não chegou a tomar posse. Na Presidência, seguiu os passos de Herbert Moses na defesa da liberdade de imprensa e movimentou-se com firmeza para a constituição de uma frente única de combate à Lei de Imprensa imposta pelo Governo Castelo Branco. Em seu primeiro relatório no cargo, ressaltou a sua determinação de lutar pelos direitos dos jornalistas: “Muitos acontecimentos, em nossa vida pública, repercutiram no seio da classe jornalística e na ABI. Travamos uma vez mais a batalha pela liberdade de imprensa, que exige habilidade, sangue-frio e firmeza de atitudes.” Com Danton Jobim, a Associação retomou o seu prestígio internacional, sendo constantemente visitada por personalidades estrangeiras, e a edição do Boletim da ABI, que havia sido interrompida. Na sua biografia como Presidente, consta também uma passagem polêmica por causa de um almoço oferecido ao marechal Costa e Silva. Jobim, que foi senador pelo antigo MBD, eleito pelo Estado do Rio de Janeiro, presidia a ABI quando esta completou 60 anos e, segundo Morel, a imprensa brasileira havia amadurecido e vivia uma fase áurea.
ADONIAS FILHO (1972/1974)
Quando foi eleito Presidente da ABI, o baiano Adonias de Aguiar Filho desfrutava de algum prestígio como romancista e pertencia à Academia Brasileira de Letras. Pouco acostumado às lutas políticas enfrentadas pela Casa do Jornalista, nem por isso deixou de cumprir suas obrigações administrativas à frente a instituição e chegou ao final do seu mandato com uma atuação considerada relevante na defesa dos jornalistas presos e dos jornais censurados.

LÍBERO OSVALDO DE MIRANDA (1975)
Quando Elmano Cruz renunciou ao seu mandato, a 27 de agosto de 1975, o conselheiro Líbero Osvaldo de Miranda foi indicado para substituí-lo. Tinha então 73 anos de idade e não chegou a presidir uma reunião sequer, pois morreu de infarto 10 dias depois de ser empossado, fato que causou muita consternação no meio jornalístico. Líbero de Miranda era grande apreciador de música clássica e de literatura francesa. 
PRUDENTE DE MORAES, NETO (1975/1977)
Também conhecido pelo pseudônimo de Pedro Dantas, com o qual assinou crônicas esportivas, Prudente de Moraes, neto foi eleito Presidente da ABI em 30 de setembro de 1975 e, além do jornalismo, dedicou-se também à poesia. Nos registros da história da ABI, consta que “exerceu o cargo com uma dignidade invulgar”. Foi em sua gestão que aconteceu o episódio do “suicídio” do jornalista Vladimir Herzog. Prudente viajou para visitar o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo e afirmar a solidariedade da ABI contra o ato criminoso praticado pelos órgãos de segurança paulistas.
FERNANDO SEGISMUNDO (1977/1978 - 2000/2004)
Após ocupar a cadeira de Presidente da ABI de dezembro de 1977 a fevereiro de 1978, durante licenciamento de Prudente de Moraes, neto por motivos de doença, Fernando Segismundo foi eleito para permanecer no cargo até maio de 1978, voltando a ocupá-lo de 2000 a 2004. Segismundo foi fundador do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, onde lecionou História Política e Econômica no curso de Capacitação Jornalística que ajudou a criar. Escreveu também vários livros, entre eles “Imprensa brasileira — vultos e problemas”, em que faz uma retrospectiva da ABI, de Gustavo de Lacerda à Era Getúlio Vargas. Durante o regime militar, integrou o rol de jornalistas presos, acusados de subversão.
MAURÍCIO OSCAR DE LIMA AZÊDO (2004/2007-2007/2010-2010/2013)
Maurício Azêdo foi eleito Presidente da ABI em abril de 2004, encabeçando a Chapa Prudente de Moraes, neto, de oposição à Diretoria então liderada por Fernando Segismundo, e empossado em 13 de maio seguinte. Em seu primeiro mandato, a instituição viveu um breve florescimento, propiciado pela aproximação dos jornalistas que apoiaram aquela que foi a primeira eleição direta da ABI, registrando o maior número de sócios votantes da história da entidade. Em abril de 2007 Azêdo foi reeleito para outro mandato de três anos, o que, segundo o Estatuto da entidade, deveria ser sua última reeleição.  Apesar de se dizer contrário ao continuísmo em qualquer esfera da vida pública, Maurício Azêdo promoveu alterações no Estatuto da entidade para permitir reeleições intermináveis. Em 2010, eleito em chapa única para um terceiro mandato, comandava uma ABI à beira do caos financeiro e estrutural. Ao se preparar para um quarto mandato, foi contestado por um grupo de jornalistas que formaram a chapa de oposição Vladimir Herzog, encabeçada pelo jornalista Domingos Meirelles. Em sua luta desesperada para impedir a participação de uma chapa concorrente, Azêdo cometeu ações indignas de sua estatura de jornalista e de homem público, sendo contestado judicialmente. Antes que a Justiça desse o veredito sobre o cancelamento de sua última reeleição, Maurício Azêdo morreu vítima de complicações cardíacas e renais, em 25 de outubro de 2013, deixando a ABI em mãos de um Conselho sem representatividade que sequer o homenageou na primeira reunião após sua morte e que, muito ao contrário, maculou a história da entidade, ao impedir a posse do vice-presidente com um vergonhoso golpe.

FONTE: Site oficial da ABI