30 de abr. de 2013

Tribuna da Imprensa: "Quarta eleição de Azêdo na ABI foi um espetáculo deprimente"

      Azêdo acabou sendo vítima do próprio veneno. O resultado da eleição sub judice promovida pela ABI, na noite de 26 de abril, foi melancólico: apenas 6,2% dos três mil associados da mais longeva guardiã das liberdades apareceram para votar. A chapa Prudente de Morais, organizada pelo presidente Maurício Azêdo, concorreu sozinha após impedir a participação da oposição. Através de manobras espúrias, inaceitáveis numa entidade que sempre defendeu o direito de expressão e a livre circulação das idéias, Azêdo terminou provando do fel que destilou contra seus adversários: recebeu minguados 188 votos dos 201 jornalistas que participaram da eleição, na sede da entidade, no Centro do Rio. Treze sócios anularam seus votos.

      Os números não mentem: dos 188 que votaram no presidente 45 fazem parte da própria chapa, o que leva o contingente de eleitores avulsos a cair para 143, o que corresponde a 4,8 % dos três mil associados da entidade. Votação pífia para quem tenta mesclar sua imagem com a da instituição que comanda há nove anos de forma desastrosa, onde a principal prioridade sempre foi o culto à personalidade. O resultado da eleição de sexta-feira deu a exata dimensão do papel e da importância que ele representa para a comunidade jornalística do País.

      Azêdo não é a ABI. Como a ABI não é o Azêdo. Apesar do seu esforço doentio em apagar a memória de antigos dirigentes como Danton Jobim, Fernando Segismundo e tantos outros, a imagem de Barbosa Lima Sobrinho o assombra e lhe tira o sono. A expressão política que Barbosa Lima deu à instituição, nas duas vezes em que teve a honra de comandá-la, sem ambições pessoais, incomoda a megalomania cultivada pelo atual dirigente da Casa. Barbosa Lima Sobrinho foi o maior presidente da história ABI, apesar de Azêdo considerá-lo ” um velho omisso “, como a ele sempre se refere, de forma desrespeitosa, na tentativa de apequenar um dos mais ilustres brasileiros do século XX.

      As eleições de sexta-feira foram marcadas por episódios deploráveis. Marilka Lanes, mulher de Azêdo, que é de fato quem manda na Casa - manda mais que o marido e os diretores da ABI, apesar de não ser jornalista - contratou dois policiais de folga para garantir a segurança da votação. Seu objetivo, na verdade, era proteger o assédio moral dos acólitos do presidente da entidade. Marilka montou uma tropa de choque para recepcionar os eleitores e convencê-los a votar no marido. Assim que apareciam no nono andar da entidade, os sócios eram cercados pelos cambonos de Azêdo que lançavam toda sorte de impropérios sobre a honra dos candidatos da oposição, a quem acusavam de participar de uma conspiração da grande imprensa contra a ABI.

      Como se pode assacar tamanha aleivosia contra profissionais com o passado de Alberto Dines, Domingos Meirelles, Carlos Chagas, Ziraldo, Zuenir Ventura, Flávio Tavares, Joseti Marques, Ana Maria Costábile e Paulo Jerônimo, entre outros jornalistas de reputação ilibada como Juca Kfouri, Carlos Marchi, Ricardo Kostcho e Audálio Dantas ?
      Nunca na história da entidade houve um pleito tão sórdido e pervertido. O que leva os atuais inquilinos da ABI a se agarrarem ao poder como náufragos à beira de um naufrágio, mesmo depois de cometerem tantos desatinos no comando da Casa ? O que os impede de abandonar o barco quando a água invadiu os porões, a casa de máquinas e se espraia pelo convés ? O que os move a recorrem a expedientes nefastos para continuarem a bordo de uma embarcação sem rumo, que navega a baixo calado, e que pode naufragar a qualquer momento ?
      As eleições da ABI sempre transcorreram num clima civilizado, sem ódios e ressentimentos, com os membros das chapas oponentes muitas vezes conversando democraticamente, entre si, enquanto transcorria a votação. Na sexta-feira, os sócios foram surpreendidos com uma avalanche de insultos contra os candidatos da chapa Vladimir Herzog que se recusaram a comparecer ao local de votação por considerarem a eleição ilegítima.
      Ao concorrer à presidência da ABI pela quarta vez consecutiva, após alterar o estatuto para se reeleger ad eternum, Azêdo terá que aguardar, entretanto, a decisão final da juíza Maria da Glória Bandeira de Melo, da 8ª Vara Cível, que colocou a eleição sub judice. A Justiça examina as denúncias dos integrantes da chapa Vladimir Herzog que acusam o presidente de violar o regulamento eleitoral e patrocinar uma série de casuísmos antidemocráticos para bloquear a participação da oposição. Entre as graves acusações que fazem parte do processo está a compra de votos, comportamento comum entre coronéis sertanejos, mas inaceitável no presidente uma instituição que sempre defendeu a liberdade de expressão e os direitos do cidadão.
      Na sexta-feira, Azêdo voltou a mentir aos sócios que foram votar sem nenhum constrangimento como fizera semanas atrás ao ser ouvido pelo O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão diante da grave crise financeira e de gestão que ameaça o futuro da ABI. No jornal de campanha mentiu também sem nenhum pudor. A mentira foi por ele escolhida como pasto preferido. Azêdo mente uma, duas, três vezes. Mente sempre que for necessário para defender seu projeto pessoal de se eternizar no poder.
      Joseph Goebels, ministro da Propaganda de Hitler, dizia que uma mentira repetida mil vezes, tornava-se uma verdade. Goebels morreu no bunker de Berlim, em maio de 1945, depois de envenenar seis filhos pequenos com cianureto. O propagandaminister do nazismo suicidou-se, logo depois, ao lado da mulher, mas seus ensinamentos, entretanto, continuam vivos até hoje, multiplicando-se pelo mundo à serviço de interesses escusos que merecem o repúdio dos homens de bem.

A AIP apoia a Chapa Vladimir Herzog




"A Associação de Imprensa de Pernambuco ao longo dos seus mais de oitenta anos passou vários momentos de crise e ressurgimento, cada presidente depositou na instituição sua marca, seu tesouro cuja história julgará.

Acreditamos que a mudança nasce nas alternâncias das gestões e que é importante para a entidade não apenas seu patrimônio construído, mas sim sua capacidade de dialogar com o novo e manter firme os princípios a democracia, cuja liberdade de expressão para nós, jornalistas, é o clarear da esperança.

Ao acreditar na Chapa Vladimir Herzog, depositamos nossos sonhos de uma ABI nacional, e não somente do Rio de Janeiro, acreditamos que é possível lembrar do passado, mas discutir o presente e o futuro, acreditamos que cada presidente eleito tem seu tempo, e um novo tempo começa agora."

Múcio Aguiar
Presidente
Associação de Imprensa de Pernambuco - AIP



CRONOLOGIA DA CRISE

1. Na reunião Ordinária do Conselho Deliberativo da ABI, realizada dia 26 de fevereiro, o jornalista Pery Cota, que presidia a sessão, agiu de má fé ao pedir que o presidente Maurício Azêdo indicasse os integrantes da Comissão Eleitoral. O presidente da ABI propôs então três nomes da sua confiança pessoal: Continentino Porto como presidente, Marcus Miranda e José Pereira Silva. A comissão foi aprovada por unanimidade pelos membros do Conselho. A decisão, entretanto, contraria o que estabelece o Regulamento Eleitoral em vigor. No parágrafo lº do Artigo 5º, o referido documento estabelece que a presidência da Comissão Eleitoral "caberá ao Secretário da Diretoria Executiva, que coordenará a eleição, não tendo direito a voto na comissão".

Com a reforma do Estatuto patrocinada pelo presidente da ABI em 2010, o cargo de Secretário da Diretoria foi extinto. Suas atribuições, entretanto, passaram a ser exercidas pela Diretoria Administrativa, o que foi ignorado tanto pelo presidente do Conselho Deliberativo como pelo presidente da ABI.

Na reunião de 26 de fevereiro, Pery Cota e Maurício Azêdo atropelaram o Regulamento Eleitoral e aprovaram uma comissão que atendesse exclusivamente aos seus interesses políticos, como se comandassem uma agremiação estudantil de segundo grau. Ao afrontarem as regras do código eleitoral da Casa, contaminaram também todos os atos proferidos por uma comissão viciada desde o berço.

Não se pode admitir que uma entidade com o passado de lutas da ABI se utilize de expedientes espúrios que ofendem a inteligência e conspurcam as melhores tradições de uma instituição centenária que se orgulha de ser a mais antiga instituição da sociedade civil. A ABI não pode ser maculada por maquinações que violam a ética e os mais comezinhos princípios democráticos que sempre nortearam os destinos da Casa, desde a sua fundação em 1908.

2. O Edital de Convocação das Eleições também não obedeceu o que reza o Artigo 20º do Regulamento Eleitoral, que manda fixar o referido documento em todas as dependências da entidade. Apesar da determinação, o Edital foi colocado apenas no quadro de avisos do sétimo andar, onde funciona a Diretoria.

3. O jornalista Paulo Jerônimo, coordenador da chapa Vladimir Herzog, protocolou o pedido de inscrição da chapa no dia 18 de março, como estabelece o Artigo 19 do Regulamento Eleitoral. Apesar do Artigo 5º determinar que a Comissão Eleitoral deverá ser "integrada por integrantes das várias chapas concorrentes ", Paulo Jerônimo jamais foi convocado a se incorporar à referida comissão. A Comissão Eleitoral reunia-se apenas com o presidente Maurício Azêdo, sob alegação de que representava a chapa Prudente de Morais.

3. Ao tentar se informar, dias depois, sobre o andamento do processo eleitoral, já que não fora convocado a participar de nenhuma das reuniões, o coordenador da chapa Vladimir Herzog foi surpreendido com a informação de que o prazo para contestação da impugnação de candidatos havia expirado no dia 20 de março. A chapa de oposição não poderia, portanto, participar das eleições marcadas para o dia 26 de abril. A Comissão informou que entre os integrantes da chapa Vladimir Herzog havia vários associados que não estavam com suas mensalidades em dia.

4. A chapa Vladimir Herzog não foi, entretanto, notificada para que substituísse ou quitasse, no prazo de 48 horas, os sócios apontados como inadimplentes, como determina o Artigo 24 do Regulamento Eleitoral. A impugnação foi decidida sem qualquer aviso prévio ao coordenador da chapa ou aos associados que dela participavam.

5.  Os poucos sócios que tomaram a iniciativa de tentar quitar, por conta própria, as mensalidades em atraso no balcão da Tesouraria foram impedidos de fazê-lo. A presidência da ABI deu férias ao funcionário da Tesouraria e proibiu o recebimento de pagamentos no balcão. A orientação transmitida aos associados era de que a quitação das mensalidades atrasadas só poderia ser efetuada através de boleto bancário, na agência do Santander. Como a ABI não autorizou o envio dos boletos, via correio, para os integrantes da chapa Vladimir Herzog, seus membros não tiveram como zerar seus débitos com a instituição, o que impediu a oposição de participar da eleição.

6.  Os membros inadimplentes da chapa Prudente de Morais, liderada pelo presidente da ABI, receberam, entretanto, tratamento privilegiado, o que viola o princípio da isonomia associativa definido nos Artigos 53 e 54 do Código Civil. A lei determina que todos os sócios devem receber o mesmo tratamento da instituição a que estão filiados. Através de cheque pessoal do Banco Itaú, Azêdo quitou, de uma só vez, no balcão da Tesouraria, os débitos de 17 associados que integravam sua chapa. Assinado no dia 1l de março, o cheque no valor de R$ 595,00 foi depositado na agência México do Banco Santander.

No verso do cheque, os que deveriam ser contemplados com a anistia por ele concedida. Com o pagamento de apenas R$35,00 por associado com mensalidade atrasada, Azêdo permitiu que 17 sócios em situação de inadimplência atualizassem seus débitos e pudessem participar da sua chapa, sem perder o prazo de inscrição. A atitude do presidente da ABI foi considerada ilegal, imoral e antiética pelos integrantes da chapa Vladimir Herzog. Esse expediente revestiu-se de um caráter ainda mais deplorável por ter sido realizado às escondidas, procedimento inaceitável para quem dirige uma instituição como o passado da ABI.

O mesmo privilégio, entretanto, não foi concedido aos membros da chapa Vladimir Herzog. Azêdo obrigou que eles aguardassem o boleto bancário, via correio, para ficarem em dia com a entidade. A proibição de quitarem seus débitos na Tesouraria, como fez com os integrantes da sua chapa, destinava-se a impedir que membros da oposição inscrevessem a chapa dentro do prazo.

Um mês depois desse episódio deplorável, vários integrantes da chapa Vladimir Herzog ainda aguardam pelos boletos para quitarem seus débitos com a entidade. Um sócio que aguardava pela anistia, concedida aos membros da chapa de Azêdo, relatou que no boleto que recebeu às vésperas da eleição constava a seguinte recomendação: “se estiver em dia com as mensalidades, pagar este boleto.”

7.  Diante do conjunto de irregularidades cometidas tanto pela Comissão Eleitoral como pelo presidente da ABI, a coordenação da chapa Vladimir Herzog ingressou na Justiça com um pedido de liminar para que a eleição fosse suspensa. A juíza Maria da Glória Bandeira de Mello, da 8 ª Vara Cívil, acatou parte do pedido da oposição. Diante da proximidade da eleição, determinou que ela fosse realizada sub judice; ou seja, o resultado não teria valor legal até que fossem apuradas as denúncias formuladas pela oposição. Entre elas, estão citadas a má gestão econômico-financeira do atual presidente (que se encontra no terceiro mandato e é candidato pela quarta vez, após alterar o Estatuto que limitava o exercício da presidência a dois mandatos), as dívidas colossais e o péssimo estado de conservação do edifício-sede, como atestou o laudo de vistoria realizado pelo arquiteto Fernando S. Krüger. A chapa Vladimir Herzog pediu também que a Justiça se manifestasse sobre a forma autoritária como o atual presidente conduz os destinos da ABI. Das 74 reuniões da Diretoria que deveriam ter sido realizadas, nas últimas três gestões, Azêdo só convocou 14, das quais apenas oito estão registradas no Livro de Atas que se encontra atualmente desaparecido.

8.  No Embargo Declaratório encaminhado dia 24 de abril à juíza Maria da Glória Bandeira de Melo, que colocara a eleição da ABI sub judice , a chapa Vladimir Herzog acrescentou outra denúncia: no verso do cheque pessoal utilizado para quitar ilegalmente os associados inadimplentes da chapa Prudente de Morais, o presidente da ABI anistiou um morto: o jornalista Tim Lopes, da TV Globo, falecido em 2002. Azêdo pagou as mensalidades em atraso de Tim, acreditando que quitava as dívidas do irmão, Argemiro do Carmo Lopes do Nascimento, candidato ao Conselho Fiscal. O ato falho do presidente da ABI deixou a chapa Prudente de Morais em situação irregular. O Regulamento Eleitoral estabelece no Artigo 14 que as chapas só podem ser inscritas completas, com os nomes dos seus 51 integrantes com suas mensalidades rigorosamente em dia.

9. Diante dessa falha, a chapa liderada por Azêdo foi registrada com um candidato inadimplente, o que a impedia legalmente de participar da eleição. Apesar de declarar ao O Globo, na edição de 26 de abril, que o erro fora sanado com o pagamento da referida mensalidade através de recibo, a emenda saiu pior que o soneto. Ao reconhecer que agira de má fé, pagando a dívida de 17 inadimplentes com um cheque pessoal, o presidente da ABI não percebeu que o acerto da dívida de Miro Lopes ocorrera fora do prazo.

27 de abr. de 2013

VEJA NA REPORTAGEM OS DETALHES DA HISTÓRIA

PRESIDENTE DA ABI ADMITE QUE ANISTIOU O SÓCIO MORTO COM PRÓPRIO CHEQUE
http://oglobo.globo.com/pais/endividada-abi-realiza-nesta-sexta-feira-eleicao-sub-judice-8215714

Leia no Globo

Sub judice e com chapa única ABI elege nova diretoria
http://oglobo.globo.com/pais/sub-judice-com-chapa-unica-abi-elege-nova-diretoria-8227728

Número de votos comprova os argumentos da Chapa Vladimir Herzog

Os números não costumam mentir. Pois então vamos às contas: a eleição sub judice para a diretoria da ABI, nesta última sexta-feira, contabilizou 201 votantes. Foram 12 votos nulos, um em branco e 188 para a chapa única. Destes 188 que votaram na chapa da situação, 45 pertenciam à propria chapa, donde se conclui que apenas 143 eleitores compareceram à urna sem vínculos eleitorais diretos - ou espera-se que  assim tenha sido. Abstraindo-se o fato de que era uma eleição eivada de vícios, que legitimidade se pode conferir a um pleito cujo universo total de associados é de 3.000 jornalistas e ao qual compareceram apenas 4,8 %?

Os membros da Chapa Vladimir Herzog não reconhecem a legitimidade do pleito e por isso se abstiveram de testemunhar as cenas patéticas, mais tarde relatadas por companheiros que foram à sede da entidade como observadores - a mais degradante delas, a presença de dois leões de chácara contratados para dar proteção aos cabos eleitorais da chapa única, enquanto faziam boca de urna, difamando os companheiros da chapa de oposição. Um espetáculo deprimente, com texto mais deprimente ainda, repetido em ladainha a eleitores desavisados: "...eles estão a serviço da grande imprensa, dos jornalões. São comprados pela TV Globo...". 

Dá para acreditar que chegamos a isso na Associação Brasileira de Imprensa? 

A estultice que leva alguém a considerar que a ABI deve estar contra a grande imprensa e seus jornalistas é até de se relevar, pois que à burrice não se deve dar trelas. E quanto a estar "a serviço da grande imprensa", isso nem merece comentário. No entanto, o que mais nos preocupa é o fato de  os atuais inquilinos da ABI e seus agregados inferirem que os companheiros que lhes fazem oposição poderiam comparecer ao pleito e se prepararam para recebê-los com truculência - ou o que mais se poderia esperar da atuação de guarda-costas contratados? 

Uma entidade que tem em sua história a marca da luta pela defesa dos direitos da pessoa e da democracia agora serve de palco a esse tipo de espetáculo lastimável. 

Afinal, o que move essas pessoas?




Leia em O Globo


Endividada, ABI realiza nesta sexta-feira eleição sub judice

http://oglobo.globo.com/pais/endividada-abi-realiza-nesta-sexta-feira-eleicao-sub-judice-8215714#ixzz2RXhPgQRl

A decadência da ABI



ANDREI BASTOS

Saber envelhecer é uma virtude pouco apreciada e nada cultivada por quem se apega desmedidamente a algum poder, mesmo que seja o de síndico de prédio residencial. De síndico a presidente da república, muitas gradações do brilho que mais alimenta as vaidades hipnotizam as almas pequenas de seres humanos menores ainda.

Quando o poder individual, em qualquer nível, resulta de processos coletivos de conquista de direitos, temos justificada uma liderança real, que nasce com os dias contados por causa de sua própria natureza transformadora. Contrariar esse movimento é condenar a conquista realizada à estagnação e degradação.
Leia mais...

Comecei minha carreira de jornalista aos 19 anos, no extinto Correio da Manhã, e sempre integrei os processos coletivos da minha categoria profissional, tanto na luta contra a ditadura como nas reivindicações por melhores salários, reconhecendo e apoiando as lideranças legítimas que se afirmaram nesses processos.

Durante toda a minha vida profissional portei com orgulho a carteira da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que renovei todos os anos, até recentemente. Há coisa de uns dois anos, desisti da carteira, e no ano passado, pensei em desistir da própria ABI. Ao receber os primeiros boletos de cobrança de mensalidade, olhei com melancolia para eles e os joguei no lixo.

Passados alguns meses, com mensalidades acumuladas, reagi e retomei os pagamentos, resgatando em mim a crença de que à ABI só podia estar reservado um destino digno, ao menos, apesar de se evidenciar na sociedade que a brava combatente do passado parece não ter sabido envelhecer, se escondendo envergonhada atrás de andaimes “de fachada”.

Além disso, para um ex-estudante de arquitetura como eu, mais do que os andaimes “de fachada”, a aparência lúgubre das instalações do Edifício Herbert Moses, projetado com inspiração nas ideias do meu ídolo Le Corbusier, denuncia a incúria da sua administração. Do hall de entrada, no andar térreo, ao jardim de Burle Marx que não existe mais, no 13º andar, tudo cheira a mofo.

Bons tempos em que ventos transformadores arejavam as salas e auditórios da ABI, expulsando o mofo que hoje ocupa suas paredes e acomoda sua administração em apego apoplético a um poder decrépito! Quero voltar a ter orgulho da ABI e a renovar minha carteira de sócio todo ano, e não vejo como isso poderá acontecer com a permanência do atual estado de coisas.

É preciso mudar a ABI, para que a instituição não envelheça sem a dignidade que não faz falta a quem não sabe envelhecer e, decadente, a compromete com evidente incapacidade de gestão. Quero voltar a frequentar a Casa do Jornalista com o mesmo espírito que me animava nos processos coletivos dos jornalistas no passado, solidário e encorajado pelos meus pares.

Para a ABI, saber envelhecer é, antes de tudo, saber renovar a alma com a grandeza de reconhecer que nenhum poder é eterno e a alternância na sua ocupação mantém saudável o seu corpo, que é coletivo, de todos os jornalistas.

O que há por trás de uma luta esvaziada de interesses coletivos?


JOSETI MARQUES

O título deste artigo, por si só, poderia poupar o leitor das linhas que se seguem. A pergunta, dirigida ao jornalistas, é o gancho que justifica a pauta e que poderia dar início à apuração da uma matéria que ninguém ainda se dispôs a escrever, porque os jornalistas não se interessam pela ABI que temos tido. E cabe a pergunta: o que justifica uma luta ferrenha, com recurso até mesmo a expedientes  que ferem a honra e a ética, em nome apenas da  manutenção de cargos na diretoria da Associação Brasileira de Imprensa? 
A inquietação surgiu ao reler a edição do Jornal da ABI, comemorativa da eleição que substituiu Fernando Segismundo por Maurício Azêdo, em abril de 2004, dando posse à diretoria da qual fiz parte, com diretora de Jornalismo. Voltar àquela edição foi uma provocação de Domingos Meirelles, eleito na época como Diretor de Assistência Social, e que disse ter-se comovido ao reler o que eram os nossos sonhos. Mas o que vi nas entrelinhas daquele jornal não foram apenas os sonhos que hoje vemos frustrados, mas uma realidade problemática que ainda aguarda apuração e sem o que a ABI jamais virá a cumprir seu ideal. Peço, aos que tiveram a paciência de nos ler até aqui, que consultem, no link abaixo, a matéria que conta as artimanhas vergonhosas urdidas pelos “inquilinos” dos cargos da ABI, para impedir a eleição que daria a vitória à chapa encabeçada por Maurício Azêdo, de oposição a Fernando Segismundo, que ocupou a  presidência nos período de 1977-1978 e 2000-2004 http://www.abi.org.br/jornaldaabi/Junho-2004.pdf.
O que aconteceu naquela oportunidade está-se repetindo agora, com os mesmos lances que desrespeitam os princípios democráticos e ferem a honra de qualquer cidadão, sendo ainda mais grave se o cidadão for um jornalista a quem a sociedade confia a defesa de seus anseios. E desta vez, por aqueles que diziam defender a bandeira de uma ABI democrática, plural. E aí, mais uma vez, cabe a pergunta: o que faz com que jornalistas lambuzem a honra e manchem o currículo em nome da permanência nos cargos de diretoria da ABI?
O que se espera do jornalista que ocupe qualquer dos postos da diretoria é doação pessoal, trabalho voluntário, o arregaçar das mangas sem qualquer remuneração – e aí se inclui o posto de diretor presidente. Em 2004, quando assumi a Diretoria de Jornalismo da entidade, eleita na chapa a que hoje estamos nos opondo, tinha plena consciência da missão a cumprir e da doação implícita naquele compromisso. Os registros e documentos podem comprovar não apenas o quanto foi significativa a minha contribuição, mas também a de outros dedicados companheiros como Domingos Meirelles, que não media esforços pessoais para honrar compromissos da entidade.
Naquela ocasião,  nos batemos pelo que acreditávamos ser “a ABI que nós queremos”. O tempo acabou por mostrar que esse “nós” daquela frase de campanha eram apenas uns poucos, e que a ABI acabaria por voltar a ser aquela mesma caixa preta, ornamentada de honrarias, mas de costas para a sociedade, para o jornalismo e para os jornalistas, descolada dos dilemas e exigências do seu tempo.  Então, ainda mais uma vez a pergunta se impõe: o que está por traz de uma luta que não contempla interesses coletivos? O que foi que a ABI fez, nestes últimos 10 anos, de que os jornalistas – todos nós, os que não vivemos da ostentação de credenciais simbólicas – podemos nos orgulhar?
Não vale relacionar aí a carona nas lutas entabuladas por outras entidades, em troca de descontos ou isenção no aluguel do amplo auditório da Casa; também não devem servir de argumento as reportagens que denunciam as condições graves que enfrentam os jornalistas no país e no mundo, porque as reportagens são requentadas de outros veículos; menos ainda podem ser citados qualquer amparo a jornalistas que vivem as difíceis condições da aposentadoria ou desemprego, porque isso realmente não há. Ao contrário, o que há é a ameaça constante de extinção de um serviço médico básico que a entidade ainda mantém em um dos seus 13 andares. As críticas aos desvios da mídia jornalística, disso a ABI nem passa perto! Aliás, como apontar falhas no que fazem os jornalistas, se a ABI não se relaciona com as entidades de formação dos jornalistas – as universidades e instituições de pesquisa? Em nome de que os associados pagam suas mensalidades? Para receber um jornal de manchetes adjetivadas que apenas refletem a bile do seu editor e, destituído de prestígio e alcance, a nada mais serve?  Não, isso não vale o quanto nos pesa.
Nos últimos dias do final do meu mandato, em 2007, lembro que uma associada que ocupava um cargo “virtual” na diretoria comemorava o final feliz de uma “grande luta da entidade”: conseguir o espaço para a construção do Mausoléo do Jornalista. Para que isso? – eu pensei. Talvez para abrigar a vaidade – que se crê imortal – daqueles que estão transformando a entidade em um puxadinho desse futuro mausoléo, dado o distanciamento em relação à vida que pulsa do lado de fora do edifício histórico.
E quem será digno de ter seus restos abrigados no espaço nobre  desta última honraria? Certamente, lá não terá lugar para jornalistas como  o saudoso Conselheiro Arthur Cantalice, que teve um infarto fulminante durante uma reunião do Conselho da ABI, quando se manifestava e, indignado, tentava impedir tudo isso contra o que agora lutamos.
Não, essa pode ser a ABI que “eles” queriam, mas não é a ABI que nós merecemos.