15 de set. de 2013

DE BARBOSA LIMA SOBRINHO PARA MAURÍCIO AZÊDO (2)

Do Céu para a Terra

De: barbosaLima.sobrinho@doceu.com.br

Caro Maurício,
Continuamos, aqui em cima, estarrecidos com o processo de decomposição da imagem da nossa querida ABI.  A cada dia que passa - no céu, o tempo tem outra dimensão -,  recebo notícias que me entristecem. Não é preciso acessar a enxurrada de e-mails que congestiona minha caixa postal para saber o que se passa aí embaixo.  Como estamos  nas alturas,  em permanente estado de sacralidade e  elevação, passamos a desfrutar  de alguns poderes especiais, entre eles a presciência. Somos igualmente capazes de enxergar, mesmo à distância, as ambições e vilezas que se acoitam nos desvãos da alma humana.
O modo de ser celeste é uma hierofania inesgotável.  Essa é uma das muitas vantagens de se viver literalmente nas nuvens, como  diz o poeta Mário Quintana, sempre saudoso do seu Alegrete,  que teve outros dois filhos ilustres: João Saldanha  e Oswaldo Aranha.
O clima entre nossos amigos anda muito pesado. Muita gente, aqui em cima, não gosta de você. Seus maiores desafetos estão justamente entre os velhos companheiros de luta do antigo PCB.  O Prestes e o  "Geraldão", por exemplo, não querem sequer ouvir falar no seu nome. Você cevou uma legião de inimigos ao longo da sua militância política. Alguns membros da velha guarda passam, inclusive, boa parte do tempo apedrejando  sua reputação como dirigente partidário.
Você tem péssimo conceito, aqui no céu, principalmente entre seus pares. Apesar da sua imagem não ser boa, entre nós,  ninguém acreditou quando o Raymundo Faoro contou que você tinha baixado um Ato Institucional impedindo que sócios com mensalidades em atraso entrassem na sede da ABI. Acreditaram que o Faoro  estivesse fazendo campanha para a Chapa Vladimir Herzog, liderada pelo Meirelles e o Carlos Chagas, que luta na Justiça pelo direito de participar das eleições da Casa.
Nossos amigos ficaram  perplexos quando o Faoro exibiu a  cópia do documento fixado na portaria do prédio. Qualquer associado, para ingressar na ABI,  deve apresentar o boleto bancário, comprovando que está em dia com a Casa. Quem não estiver com o documento na carteira é submetido a outro  grave constrangimento, na  frente de estranhos, como tem ocorrido nos últimos dias. Os funcionários pedem então que os sócios saíam da fila do elevador e aguardem, ao lado da portaria, o resultado da consulta telefônica  que são obrigados a fazer ao gabinete da presidência.  
O Guilherme, que foi namorado de sua filha mais velha, e trabalha há vários anos na Casa,  é quem diz se o associado  está ou não autorizado a entrar no prédio.  O computador que ele consulta pertence à Tesouraria  e não pode permanecer ilegalmente na sua sala.
Nunca se viu, em toda a história da entidade, tamanha demonstração de prepotência e insensatez. Eu mesmo, que fui presidente da Casa, pela primeira vez, em 1932, não recordo que se tenha adotado procedimento semelhante, nos últimos 70 anos.
O Gustavo de Lacerda, que fundou a ABI em 1908,  está cada vez mais deprimido com toda essa situação. Ele morreu cedo, não chegou a cumprir um ano de mandato, mas se sente culpado por ter criado uma instituição que se isolou do corpo social com uma cerca de arame farpado. O Gustavo era um visionário. Acreditava que ABI seria um campo neutro, capaz de abrigar todos os profissionais de imprensa, independente da sua função e credo político. Nunca lhe passou pela cabeça que, um dia, ela se transformasse num circo de horrores.
O José Mesquita, assíduo freqüentador do 11º andar, que  se juntou a  nós, há poucos dias,  disse que a decisão de afastar os sócios da Casa faz parte de um plano diabólico. Com a posse do computador você poderá manipular qualquer eleição. O Mesquitinha contou que, dias antes de partir, quando ainda estava internado no hospital, tomou conhecimento de que a Juíza Maria da Glória Bandeira de Mello, da 8ª Vara Cívil, marcou a audiência final para 21 de outubro. Nesse dia ela dará a sentença no processo  que o Meirelles e o Paulo Jerônimo movem contra você, por ter fraudado o processo eleitoral. No texto da tutela antecipada, concedida em 22 de julho, ela já firmou seu juízo de convencimento. Observou que as eleições da ABI foram maculadas por um conjunto de irregularidades, "com o nítido propósito de afastar a Chapa Vladimir Herzog da disputa", o que tanto envergonhou a todos nós. A juíza chamou a atenção para "a inadmissível desigualdade de tratamento", entre as duas chapas, com o objetivo de impedir que a oposição participasse do pleito. Ela ainda deu um puxão de orelhas em você. Determinou que a próxima eleição seja realizada "com escorreita observância do Regulamento Eleitoral e dos princípios da isonomia associativa, transparência e publicidade que devem nortear as disputas eleitorais que é o que se espera, em especial, de uma instituição do gabarito e respeitabilidade da ré".
O Mesquitinha contou que, nos últimos anos,  era obrigado a tirar dinheiro, do próprio bolso, para conservar o feltro das mesas de sinuca do 11º andar. A justificativa que você usou para cortar a verba de manutenção foi considerada  infamante. Alegou que o "onze" era só freqüentado por "desocupados", como sempre se referiu aos sócios aposentados, que se reuniam naquele espaço de convivência social. Com o cafezinho cada vez mais ralo, frio e amargo,  a turma debandou.
A visão que as mesas de sinuca hoje oferecem, estendidas,  lado a lado, cobertas com plástico preto, é assustadora. Não existe mais aquele ambiente alegre e barulhento, onde discutia-se futebol e política, em voz alta,  com a mesma paixão. O silêncio é tão grande no "onze" que se pode ouvir o barulho de uma agulha cair no chão.
As pessoas estão cada vez mais revoltadas com o abandono a que foi relegada a nossa ABI.  Aqui em cima, os mais velhos, que sempre foram os mais tolerantes, estão perdendo a paciência com você. O edifício-sede e o futuro da  entidade parecem cada vez mais sombrios diante das sandices cometidas pela sua administração.
O Ulysses Guimarães, que toma sempre um cafezinho na minha sala, contou que se assustou  com o aspecto cavernoso da portaria do prédio. Ele caminhava outro dia  pela Araújo Porto Alegre,  para assistir de perto as manifestações na Cinelândia, quando viu só duas lâmpadas acesas no hall principal.  As oito restantes estão queimadas há mais de três meses. Aquele mundo de sombras foi para ele simbólico. Sempre com aquelas frases de efeito,  que foram suas digitais,  na vida política, alfinetou: "A ABI deixou de ser um farol para se perder nas trevas da intolerância". Como bom observador, completou, irônico: "Também não tem mais bandeira". No alto do prédio,  só viu o pavilhão nacional;  o outro mastro,  onde ficava  a bandeira da entidade, estava desnudo. ''Lembrava o tronco de uma árvore sem vida", arrematou, consternado.
O Ulysses era só tristeza naquele dia. Não conseguia entender a situação de descaso a que foi arrastada uma instituição, a qual se referia sempre como  "a mais longeva guardiã das liberdades". Quando soube que você estava impedindo os sócios de entrarem na Casa, levantou-se e saiu sem dizer uma palavra. Estava com a cabeça enxameada de maus augúrios.
Não quero tomar seu tempo nem desperdiçar o meu. A principal razão de enviar este novo e-mail não são as críticas que continua endereçando  à minha pessoa, chamando-me de "velho omisso". O motivo, desta vez,  é repelir as intrigas com as quais tem procurado também atingir minha administração. Não vou admitir os injuriosos ataques que me tem assacado, pelos corredores, para denegrir e apequenar minha imagem como presidente da ABI. Nos três diferentes momentos em que estive à frente dos destinos da Casa jamais fui tão insultado.
Gostaria que parasse de me cristianizar pela montanha de desatinos  que tem cometido ao longo dos nove anos em que dirige a entidade como um mandarim.  Não me transforme em espelho. Na minha época, a Diretoria reunia-se uma vez por semana.  As decisões eram sempre tomadas, de comum acordo, com os demais diretores. O comando da Casa funcionava como um colegiado.
Nos seus três mandatos, você deveria ter realizado 144 reuniões de Diretoria, mas reuniu-se apenas 13 vezes com seus pares. Você não ouve ninguém. Decide tudo sozinho como se cumprisse um mandato divino.  O resultado aí está: uma instituição centenária, com um passado glorioso, sitiada por dívidas colossais. O  edifício-sede, que sempre foi motivo de orgulho para todos nós, está com vários pavimentos penhorados como garantia de débitos que dificilmente serão pagos. O descalabro financeiro colocou em grave risco de esfacelamento  um patrimônio  que não pertence apenas aos jornalistas, mas a toda a sociedade brasileira.
A ABI não pode continuar sendo administrada como uma propriedade privada. Na sua gestão, o aluguel dos inquilinos  e a locação das antenas de telefonia celular são tratados como um negócio particular. Você estabelece os valores, pessoalmente, sem consultar a Diretoria. Os contratos são discutidos e assinados apenas por você, em flagrante violação do Estatuto. O inciso IV, do Artigo 53, determina que o Diretor Econômico-Financeiro  deve "assinar, com o Presidente, os contratos de locação e de cessão de uso de dependências da Associação". Na sua gestão, o Estatuto jamais foi respeitado. Tudo é decido, sigilosamente, em áreas de sombra. Todos os contratos assinados apenas por você, ao longo de  três mandatos, são juridicamente ilegais.
Você tem sido um péssimo gestor. O melhor exemplo foi a desastrada negociação conduzida em segredo com a rede de livrarias A Travessa. A empresa tinha interesse em alugar o espaço ocupado pelo restaurante Rick's, na esquina de México com Araújo Porto Alegre,  para a instalação de uma megalivraria. O empreendimento, inclusive, daria excelente visibilidade à própria ABI, ao atrair público de bom nível intelectual, como são os clientes da referida livraria. A empresa pretendia, inclusive, promover intensa programação cultural no auditório da Casa, além de usar o espaço nobre do 9º andar para  lançamento de livros.
Como de hábito, as tratativas foram realizadas embaixo dos panos. Quando o negócio azedou, você convocou o Meirelles, na época responsável  pela área financeira, para tentar reativar o contato bruscamente interrompido.  O Meirelles estranhou que não o tivessem chamado para participar da negociação. Você sabia que ele conhecia o dono e o gerente-geral da rede de livrarias, onde participou de vários lançamentos dos livros que escreveu.

Após o encontro,  realizado a seu pedido, com a direção da empresa, em Ipanema, o Meirelles  ficou chocado com o que ouviu. Contaram que desde o primeiro momento,  na presença da sua mulher, que acreditaram ser diretora da ABI,  perceberam  sua  arrogância.  A sensação era de que lhes prestava  um favor. Antes que formulassem qualquer proposta, você impôs suas condições: R$ 650 mil à vista, entre luvas e aluguéis adiantados. Queria  ainda o pagamento de parcelas intermediárias, a título de bonificação, caso o empreendimento se revelasse bem-sucedido. Não se dispôs  a discutir  prazos ou valores. Era pegar ou largar. Resumo da ópera:  desistiram da loja da Rua México, e abriram uma nova livraria na Sete de Setembro. O episódio dispensa comentários.

No primeiro e-mail que lhe enviei,  falei sobre as críticas que você me fez, chamando-me publicamente de  "velho omisso". Seu comportamento desrespeitoso provocou  uma avalanche de protestos  aqui no céu. As manifestações de carinho e desagravo que recebi foram comoventes.
O primeiro a me prestar solidariedade foi o historiador Hélio Silva que durante anos presidiu o Conselho da Casa. Ele conhece bem seu gênio esquentado. O Hélio jamais esqueceu os impropérios de que foi vítima quando você se deixava conduzir pela incontinência verbal. Espumava pelos cantos da boca, dizia coisas absurdas, a expressão sempre transfigurada, como se tivesse incorporado uma entidade de pouca luz.
Como  dizia,  o Hélio Silva foi o primeiro a aparecer no meu gabinete. Estava de sandálias, vestido com aquele hábito de monge medieval, depois que se despiu das veleidades humanas. Chegou bem cedinho, logo depois  da missa das sete, acompanhada de órgão e canto gregoriano. Talvez você não saiba, mas ele declarou voto de pobreza, no início dos anos 90, e decidiu levar uma vida de clausura monástica. Renunciou aos direitos autorais de sua vasta obra historiográfica, abdicou dos  poucos bens materiais que amealhou como médico e historiador, e recolheu-se ao Mosteiro de São Bento. Apesar de portar-se ao longo da  vida com a elegância intelectual de um grão-vizir florentino, sempre foi um homem simples, despojado das ambições que se apossam dos espíritos mais fracos.
O noviciado do Hélio, na política, foi como militante anarquista, nos anos 20, mas  no fim da vida converteu-se num papa-hóstia. Leva  atualmente uma vida de piedade e oração. Nunca lhe passou pela cabeça, quando vivia aí embaixo, trocar o acanhado apartamento onde cultivava sua reconhecida paixão pelos livros, pelo prazer mundano dos luxos e veludos de um duplex de 1400 metros quadrados, em uma das áreas mais nobres da Barra da Tijuca. Eu também sempre fui muito feliz, com a Maria José, os filhos e meus livros, no casarão antigo em que morei, na Rua Assunção, em Botafogo. Você achou mais aprazível viver perto do mar. Afinal, a vida é feita de escolhas.
As pessoas que foram ao meu gabinete expressar repulsa pela forma desairosa como você  se referiu à minha pessoa estavam profundamente indignadas.  Guardei apenas alguns nomes, tantas foram as manifestações de  solidariedade e afeto que recebi: Joel Silveira,  Apolônio de Carvalho, Evaristo de Moraes, Roberto Marinho, Carlos Drummond de Andrade, Amilcar de Castro, Carlos Marighela,  San Tiago Dantas, Manuel Bandeira, Nelson Hungria, Villa-Lobos, Evandro Lins e Silva, Márcio Moreira Alves, Raul Riff, Hermes Lima,  Ênio Silveira,  Mário de Andrade, Prado Kelly, Adolpho Bloch, Robert Civita, Vinicius de Moraes, Júlio de Mesquita. O cantor Francisco Alves veio com o Nelson Gonçalves e o Carlos Gardel. O último da fila era o Prudente de Morais, Neto, o nosso querido Prudentinho. Estava de óculos escuros como na época em que tinha os olhos enevoados por uma maldita catarata.  Como aqui ninguém precisa desses apetrechos, porque recuperamos a plenitude da visão e passamos a enxergar muito bem, acredito que se tenha refugiado atrás das lentes escuras para não ser reconhecido. Na semana passada, eu o vi conversando com o Pompeu de Souza. Ele mostrava o jornalzinho de campanha da chapa da situação, onde o nome dele aparecia, na primeira página, redigido de forma incorreta. Escreveram Prudente de Moraes, ao invés de Morais. Era visível  sua indignação por ter sido transformado em patrono de uma chapa que não escreve direito o seu nome.
O clima de tristeza em  que vivemos todos, aqui em cima, diante do que está acontecendo com a ABI é cada vez maior.  O único que vive feliz como pinto no lixo é o Arthur Cantalice. Ele continua escrevendo aquele jornalzinho mural, onde atacava sua administração, que você mandava retirar dos andares. O Cantalice usa a mesma velha máquina Olivetti, modelo Lexington 80, com os tipos desalinhados, que a Sala de Imprensa mantém  à disposição dos associados.
Ele aproveitou a romaria de personalidades ao meu gabinete para lançar uma edição extra do jornalzinho. Na primeira página, denunciou, em letras garrafais, a mistificação da reforma dos banheiros do sétimo andar, conduzidas pela Marilka.  Na manchete, em negrito, corpo 72, caixa alta, se lê: UM NEGÓCIO  DA CHINA.
A matéria diz que a reforma foi uma obra eleitoreira. Não foram trocados os encanamentos nem as válvulas dos banheiros com quase meio século de uso. As paredes foram apenas revestidas com porcelanato  chinês colado sobre a camada de azulejos antigos,  da época da construção do prédio. Não levou-se em conta a qualidade nem a durabilidade do produto, apenas seu baixo custo. O  material escolhido pela primeira-dama foi o mais barato da praça. As placas de 40X40 cm foram compradas como  xepa de fim de feira. O porcelanato chinês é tão ordinário que o metro quadrado custa o preço de um lanche do MacDonald's.
O jornalzinho do Cantalice faz muito sucesso aqui em cima. Ele voltou a falar sobre o puxadinho que está sendo construído ilegalmente no terraço, onde havia o jardim do Burle Max. O Gastão Pereira da Silva, com aquela cabeleira em permanente alvoroço, contou que o viu outro dia sobrevoando o prédio da ABI. Estava na garupa de uma versão mais sofisticada do 14-BIS, pilotado pelo próprio Santos Dumont, que usava um rayban de mau gosto, comprado num camelô do Largo da Carioca. Ele tirava fotos da academia de ginástica que está sendo erguida no terraço
(foto: Arthur Cantalice)
Os irmãos Maurício e Marcelo Roberto, responsáveis pelo projeto do prédio, vão  ingressar com uma queixa-crime contra sua administração na Procuradoria da República, no Rio de Janeiro. O imóvel é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural e protegido por lei federal. Eles explicaram que qualquer modificação no projeto original gera graves sanções. Além do embargo e demolição da obra, o infrator está ainda sujeito à multa de 30% a 100% do valor venal do bem tombado, além de outras sanções previstas pela legislação em vigor.
Na semana passada, quem apareceu no meu gabinete foi o Sobral Pinto. Entrou na minha sala possesso, agitando aquele velho guarda-chuva do qual jamais consegue se livrar, apesar de nunca chover aqui em cima. Ele veste-se  ainda todo de preto, como no tempo em que tinha escritório do outro lado da Araújo Porto Alegre, em frente à sede da ABI. Como você deve saber, o Sobral foi  advogado do Luís Carlos Prestes quando ele esteve preso, durante o Estado Novo.
O Prestes, que é muito amigo do Sobral, contou que você não agiu como magistrado ao julgar o pedido de anistia do estivador Geraldo Rodrigues dos Santos, mais conhecido como "Geraldão". Ele era um dos quadros mais importantes do PCB no Rio de Janeiro. O Prestes disse que ele andava sempre com uma cápsula de cianureto no bolso. Caso fosse detido, preferia morrer a entregar qualquer companheiro para a repressão. O "Geraldão" teve o pedido de anistia indeferido por você, que era o relator do processo. O Sobral afirmou que seu parecer foi odiento. Alegou que o suplicante  nunca fora preso e que  jamais lhe tocaram um dedo.
O Prestes lembrou que se os militares o apanhassem, ele seria assassinado, como ocorreu com outros quadros do PCB. Como o Sobral teve acesso aos  autos do processo, observou que você usou pesos e medidas diferentes, ao julgar outros casos. Foi impiedoso com o "Geraldão", de quem se tornara desafeto, e extremamente generoso com os chamados amigos do peito. Mesmo sem terem sido presos,  receberam polpudas indenizações.
"Geraldão" tinha 83 anos e vivia praticamente na miséria. Há vários anos lutava contra um câncer de estômago. Morreu meses depois do pedido  ser negado.
Não me atrevo a prever como será sua convivência, aqui em cima, com a velha guarda do Partidão. Vamos torcer para que  a paz celestial não seja alterada. E que todos os dias, "sejam  sempre de domingo", como diz um dos versos do Mário Quintana.
Acho melhor parar por aqui. Gostaria de comentar a carta pessoal que o "Geraldão" enviou para você, explicando porque nunca foi preso. Fica para depois.
Abraços.
Barbosa Lima Sobrinho
PS: Não acreditei que você tenha descumprido uma decisão judicial, entregando à oposição uma lista com a relação  de três mil associados onde não constavam endereço, e-mail ou sequer telefone.

11 de set. de 2013

Por Adilson Gonçalves

Gustavo de Lacerda deve estar chorando em seu modesto túmulo. Digo isto porque ao morrer, ele passava por sérias dificuldades financeiras, não tendo completado sequer o primeiro ano de seu mandato. Pois é, passados 104 anos, Maurício Azêdo, advogado, vereador, conselheiro, e, pasmem, jornalista aposentado, com um polpudo rendimento mensal, que lhe permite morar em um triplex na Barra da Tijuca, no Jardim Oceânico, através de uma reunião do Conselho Deliberativo amestrado e subserviente, decide barrar jornalistas inadimplentes. São maus companheiros, maus colegas, que a categoria deve saber quem são, e oportunamente serão conhecidos. É uma medida desumana e cruel, já que nem todos vão somente à ABI beber café ralo, ler jornais, jogar sinuca ou cortar o cabelo. Muitos dos sócios, desempregados e subempregados, recorrem aos serviços médicos - ofmatologista, dermatologista, ortopedista, dentista, cardiologista, entre outros, com consulta gratuita, mediante acordo pela cessão do espaço. Enquanto isto, Maurício Azêdo a cada internação, o que se tornou frequente, vai para os Pasteurs, Clínicas São Vicente e outras casas de saúde, destinadas à elite. Como já disse, há pontos e contra pontos: Deus e o diabo, Martin Lutther King e Ku Klus Klan, Gustavo de Lacerda e MAURÍCIO AZÊDO.

10 de set. de 2013

DEPOIMENTO: MAIS UM ESCÂNDALO NA ABI


DECADENTE, ABI É UM BARCO À DERIVA

Por Wilson de Carvalho


Neste momento estou revisando um livro de quase 200 páginas para entregar ainda amanhã, na editora Taba Cultural. Por isso, contarei em mais detalhes só mais tarde e na própria Justiça, amanhã, sobre o constrangimento que passei, juntamente com outros colegas associados como seu Édson, de 80 anos, em cumprimento a mais uma decisão arbitrária do presidente Maurício Azêdo, desta vez no sentido de os associados só terem acesso ao prédio da ABI depois de provar que estão em dia com o pagamento das mensalidades. E isto sem nenhum aviso prévio. Dizem que a decisão teria partido de D. Marilka, a verdadeira administradora da entidade, devido ao estado de saúde do esposo e presidente. 

Um dos poucos frequentadores da ABI, que a cada dia se esvazia por praticamente nada oferecer nos seus 13 andares e também pela omissão nas lutas tradicionais e na representatividade na sociedade, desde que o atual presidente assumiu há quase dez anos e se utiliza de todos os artifícios para não haver uma nova eleição, conseguida na Justiça, pela oposição, seu Édson quis jogar fora a carteira de remido, depois de explicar ao porteiro Elenildo, sempre educado e também constrangido, que não precisava pagar mais, "pois o estatuto me dá esse direito". Outro colega, também idoso, e cujo nome não me recordo, após esperar a consulta sempre demorada, pois o porteiro tem que se comunicar por telefone, com o funcionário Robson, que, por sua vez, tem de se dirigir à sala do presidente, para onde foram deslocados os computadores, ameaçou ir à delegacia, caso lhe fosse pedido, de novo, o recibo de pagamento. Em outro momento, o conselheiro José Pereira da Silva, o Pereirinha, irritado ao ser chamado por Elenildo para ler o aviso assinado pela Diretoria (...), com rubrica do presidente, saiu em disparada para pegar o elevador e "falar com Azêdo sobre esse absurdo". E aí eu me senti duplamente constrangido, pois, ao contrário do Pereirinha, se quisesse subir, "no peito", teria de ser acompanhado pelo funcionário Lúcio. E notem que tenho armário no 11o. andar e até precisava pegar material de trabalho. Preferi não criar tumulto e apenas chamar a PM, que alegou não poder interferir no caso em questão.

O constrangimento de todos nós era maior porque chamava a atenção de pessoas estranhas à ABI, enquanto aguardavam nas filas dos elevadores para se dirigir aos andares alugados por empresas, ao barbeiro no 11o. andar, agora proibido aos sócios em atraso, ou ainda ao sexto andar, para consultas aos poucos médicos que ainda restam no ambulatório da entidade, por decisão do presidente, que, dizem, pretende acabar com o atendimento médico.

O mais estranho é que o prédio da ABI é também comercial e, em caso de qualquer tipo de exigência, que o fizesse a todos os frequentadores e com funcionários especializados. No caso da ABI, mesmo sem essa providência, teria de avisar previamente aos associados ou fazer a comunicação dentro do próprio prédio, sem constrangimento, reservada e pessoalmente.

Para minha maior surpresa, ao comprovar que estava atrasado três meses no pagamento de mensalidades e não os seis, que, de acordo com o estatuto, suspende, aí sim, a atividade social até a regularização, o presidente, acreditem, mandou o funcionário Robson dizer que "eu e o Raul (sobrinho dele, também na oposição) não poderiam entrar".

Desde a sexta-feira, me sinto indignado, um verdadeiro trapo, não só pela minha correta e, desculpem o cabotinismo, destacada atuação nos 40 anos de profissão, com passagem em quase todos os grandes jornais, prêmios de reportagens, cinco Copas do Mundo. E, vale ressaltar, com o testemunho do próprio presidente, a quem auxiliei como conselheiro e primeiro secretário da Comissão de Liberdade de Expressão e Direitos Humanos, em dois de seus mandatos, até cansar, a exemplo de outros companheiros, de suas arbitrariedades e postura ditatorial, não deixando ninguém trabalhar e ainda passar a administração à sua esposa.

Além de tudo isso, nenhuma providência eu vinha tomando contra outro de seus atos abusivos, mesmo me prejudicando no controle maior das contas a pagar, ou seja, de reter toda a correspondência dos próprios associados, por tempo indeterminado, principalmente durante as suas viagens a tratamento médico ou outros motivos particulares, ou ainda, simples falta de tempo. O presidente tem que saber o que você está recebendo em termos de correspondência. Uma delas me chegou atrasada e, o que é pior, violada, com a justificativa "aberta por engano". Com a sua letra.

Exatamente em nome da ABI, eu e alguns dos próprios diretores nos tornamos oposição para reerguer a entidade, contando para isso com a força dos próprios jovens que já dominam a profissão de jornalista, mas ausentes da entidade exatamente por praticamente nada ser oferecido. A ABI envelheceu sob todos os pontos de vista.

Lamentavelmente, tamanha a indignação, fui obrigado a relatar alguns fatos da decadência da ABI, que ainda não são de conhecimento de quem não a frequenta, mas, vale ressaltar, sem nada que arranhe a honestidade do presidente. Muito ao contrário, aliás.

Se para justificar a proibição, o presidente quiser alegar o uso palavrões na frequência ao 11o. andar, não procede - até porque, Raul, que também está proibido de entrar na ABI, mal comparece à entidade, a exemplo da maioria absoluta dos associados. Durante um jogo do Brasil, em que eu e mais seis associados (número em média de frequência) assistíamos, vale dizer, através de uma TV antiga e deficiente, soltei um "porra". Diante da interferência do funcionário Antônio, responsável pelo 11o., como se fosse dono do local, disse-lhe que não tinha autoridade para se dirigir a um associado da forma que fez, gritando "olha o palavrão!". Mais grave ainda, em horário de almoço, cochilando numa das poltronas e com a telefonista Marlene em seu lugar.

Não é de minha formação o uso sequer de termos chulos, quanto mais palavrões, embora, às vezes, escape. Eu sequer xinguei o presidente ou o acusei de racista e ditador, conforme fizeram alguns associados, aos palavrões, no mesmo 11o. andar. Sem punição alguma. Um deles, de mais de 80 anos de idade, indignado por ter sido afastado da presidência do Conselho Fiscal em favor de um dos amigos do presidente, contrariando, mais uma vez, o próprio estatuto da ABI - estatuto que inexiste para o presidente e os poucos conselheiros que comparecem às reuniões, 15, em média, dos quase 100, e que apenas repetem sim a todas as arbitrariedades. Eu mesmo fui um deles. Até esgotar a paciência e passar para a oposição. Talvez por isso esteja proibido de frequentar a entidade, onde ia diariamente em horários alternados, sabedor, portanto, de todos os acontecimentos.

Wilson de Carvalho é jornalista.

9 de set. de 2013

BOMBA! BOMBA!

Não é de gás lacrimogêneo a  bomba mais recente lançada pelo presidente sub judice da ABI, Maurício Azêdo, mas é de grave efeito moral. Dois sócios foram nominalmente proibidos de entrar na sede da entidade, sob alegação ainda desconhecida, sendo que ambos são membros da Chapa Vladimir Herzog, de oposição a ele. Também por ordem de Azêdo, os jornalistas com mensalidades em atraso serão impedidos de entrar na ABI. A proibição, afixada na portaria do prédio, abrange todos os que estão com mensalidades atrasadas há seis meses ou mais. Ao chegarem ao hall, os sócios serão abordados pelos funcionários da  portaria e convidados a apresentar o recibo referente ao mês em curso. Caso não tenham o comprovante em mãos, a portaria entra em contato com o (ex?) namorado da filha de Maurício Azêdo, que trabalha no gabinete da presidência. Ele é quem autoriza ou não a entrada dos sócios, após consulta aos arquivos da Diretoria Financeira, em computador que foi retirado da Tesouraria e transferido para a sala da presidência. Na tarde de sexta-feira passada (06/09), alguns sócios tentaram subir e foram barrados pelos porteiros. "Pode chamar a polícia, a ABI é uma instituição de direito privado, e se não estiver com a mensalidade em dia não entra!", sentenciou o presidente em alto e bom som, submetendo os sócios a grave constrangimento diante das pessoas que estavam no hall - o prédio da ABI tem andares e salas alugadas para diversas empresas. O presidente sub judice afirmou que a decisão de barrar sócios inadimplentes foi tomada na última reunião do Conselho, - um conselho que foi escolhido a dedo por ele e que por isso lhe é subalterno. A medida é vergonhosamente discricionária e inconstitucional, além de ferir gravemente a imagem da Associação Brasileira de Imprensa. Os jornalistas submetidos a constrangimento prometeram entrar com uma ação por danos morais contra Maurício Azêdo.
Preparem-se! Vamos ter dias gordos a partir desta segunda-feira.