30 de jun. de 2013

A FARSA DAS REPRESENTAÇÕES ESTADUAIS

        Relatório da Diretoria. Gestão 2012/2013.
         (terceira parte )
              
      O presidente sub judice da ABI voltou ao palco. Na realidade, ele jamais abandonou  a boca de cena,  mesmo nos momentos em que dava a impressão de  se ter  recolhido  às coxias. Ao longo do seu  mandarinato, utilizou como poucos os  recursos que o  teatro oferece para  manter-se permanentemente em cartaz. Não há, entretanto, motivos para se aplaudir um ilusionista  de ocasião.
      Ao expor, com a profundeza de um pires, o trabalho desenvolvido pelas “representações estaduais” de São Paulo e Minas Gerais, o Relatório da Diretoria  parece um pavilhão de ornitologia. As duas representações, na verdade, são  como aves empalhadas,  com olhos de vidro e bico pintado. Vistas de longe, com  sua exuberante plumagem e o peito estufado, dão até a impressão de que podem  voar.  Nada mais falso e fantasioso. Apesar do aspecto, não possuem um hálito de vida.
     O Relatório aprovado pela Assembléia-Geral de abril, sem que os associados presentes tivessem prévio conhecimento do seu conteúdo,  descreve esses pássaros mumificados como se estivessem vivos. Os “consulados” da ABI em São Paulo e Belo Horizonte são apenas cenográficos, com  funções meramente decorativas. Criados como uma espécie de vitrine, pela atual administração, não possuem  existência real.
        Não se pode enganar o corpo social com tamanha demonstração de cinismo e desfaçatez.
      A representação da  ABI  em São Paulo é  um pássaro ornamental.  Não tem sequer autonomia para comprar um alfinete. Como não possui dotação orçamentária, despesas com papel higiênico, sabonete e material de limpeza são efetuadas com dinheiro da sócia que administra o escritório. O reembolso, entretanto, só é autorizado pela professora Marilka Lannes, mulher do presidente sub judice, que exige minuciosa descrição dos gastos efetuados com o tosco funcionamento da representação. Chega a ser insultuosa a forma como gerencia o consulado de São Paulo. Marilka monitora a ABI paulista como se fosse uma lojinha de confecções da Rua José Paulino, no bairro da Luz.  
      Instalada num prédio comercial, na Rua Franco da Rocha, em Perdizes,  a Representação  não  tem CNPJ e nem conta bancária, além de estar proibida de receber mensalidades dos associados que moram e trabalham  na capital de São Paulo ou no interior. O aluguel do imóvel, as contas de água, luz e telefone são pagos pela sede da entidade, no Rio.   Do ponto de vista legal, a Representação não existe.
     Não se pode dizer também que teve “uma atuação destacada”, quando o próprio Relatório revela que se limitou apenas a  participar  de eventos promovidos por outras instituições. A Representação paulista  é como se fosse um jarro de louça, objeto meramente decorativo,  sem qualquer outra função.
     Nem sempre foi assi. Nas gestões de Prudente de Morais e Barbosa Lima Sobrinho, a Representação de São Paulo tinha autonomia e intensa agenda de atividades. Houve  época em que chegou a ter mais de 500 associados. Hoje, eles não chegam a 50. Afinal, por que os jornalistas paulistas desertaram da ABI?
       A situação da Representação de Minas Gerais é ainda mais patética e constrangedora. O relato falsificado das suas atividades, registrado no Relatório, chega a ser  infame. Na verdade, a sede mineira da ABI até hoje não saiu do papel.  Sua existência é apenas virtual.
    Oficialmente instituída em Belo Horizonte, com a presença do Governador Antônio Anastasia, em junho de 2011, a cerimônia de inauguração da Representação contou com a audiência de destacados jornalistas, membros do Ministério Público,  políticos  e ilustres figuras  da intelectualidade mineira. Os convidados que participaram da solenidade, realizada com pompa e circunstância,  na Academia Mineira de Letras, não sabiam que participavam apenas de uma encenação.
    A Representação da ABI em Minas Gerais, cuja instalação foi autorizada pelo Conselho Deliberativo, até hoje não existe. Além de não terem  autonomia para alugar uma sede e possuir um telefone,  a Diretoria e os membros do seu Conselho Diretor enfrentam uma situação esdrúxula:   não conseguiram  até agora se associar à ABI.  As propostas de filiação estão há quase dois anos encarceradas na gaveta da presidência da entidade, no Rio, sem qualquer explicação. Mas para consumo externo, todos os conselheiros de Minas aparecem  como sócios da Casa,  no expediente do Jornal da ABI, apesar da representação de BH não passar de uma ficção.
          Os jornalistas mineiros merecem ser tratados com mais respeito como os paulistas, todos iludidos em sua boa-fé
       Não é moralmente aceitável que sejam usados como instrumento de propaganda de uma gestão que não tem nenhum compromisso com a expansão da entidade e com as dificuldades financeiras que se avolumam, a cada dia, ameaçando sua própria existência.
       O que encobre o comportamento insalubre de solapar iniciativas que estimulem o crescimento da ABI? Que interesses a impedem de se transformar numa instituição verdadeiramente nacional, como foi no passado, quando chegou  a possuir uma sede em Brasília?

       A visão caudilhesca  da atual administração não  quer que  a entidade se oxigene, se renove e volte a crescer. Nos últimos nove anos não foi desenvolvido nenhum projeto para recuperar o prestígio e a expressão que sempre desfrutou entre as instituições da sociedade civil. Uma ABI forte e atuante não está nos planos do presidente sub judice  que  só pensa em se perpetuar no poder. Quanto menos representativa for a  instituição,  melhor para as ambições domésticas do casal que  comanda a entidade como  se fosse um rabastel. Quanto menor for o número de ovelhas e  insignificante  o rebanho, mais fácil será conduzi-lo com uma vara do que com idéias.


28 de jun. de 2013

JUSTIÇA CONTRA CRISE DE LEGITIMIDADE NA ABI

A Desembargadora Marilene Melo, da 11a. Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, cassou a decisão do juiz Gustavo Henrique Nascimento Silva que havia deferido a solicitação de Maurício Azêdo para dar posse aos membros da chapa comandada por ele. A eleição, ocorrida no final do mês de abril e que está ainda sub judice, teve apenas a chapa de Azêdo como oficialmente inscrita, porque ele usou de artifícios escusos para impedir a participação de uma chapa concorrente.  A Desembargadora entendeu  que os eleitos não tem legitimidade para tomar posse, já que a eleição ocorreu sub judice.  Até que haja o exame do mérito da ação principal, que poderá cancelar a eleição autorizando novo pleito, permanecem em suas funções os diretores da administração anterior.   

27 de jun. de 2013

VLADIMIR HERZOG FARIA 76 ANOS HOJE

O jornalista Vladimir Herzog completaria 76 anos nesta quinta-feira (27). Vlado Herzog nasceu em Osijek, na Iugoslávia, em 27 de junho de 1937, e se mudou para o Brasil com a família para fugir da perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Naturalizado brasileiro, mudou seu nome para Vladimir. Herzog se formou em Filosofia pela Universidade de São Paulo em 1959 e desde então exerceu a atividade jornalística em diferentes veículos de imprensa até ser morto sob tortura pelos militares no dia 25 de outubro de 1975, nas dependência do DOI-CODI em São Paulo, órgão de repressão do regime militar.  


Apenas no dia 15 de maio deste ano, a família de Vladimir Herzog recebeu a nova certidão de óbito do jornalista, corrigindo a versão de que Vlado teria se enforcado na cela do DOI-CODI. O novo atestado, entregue durante ato público da 68 ª Caravana da Anistia, organizada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, aponta como causa da morte lesões e maus-tratos sofridos por Herzog durante interrogatório no DOI-Codi. A alteração foi feita após pedido da Comissão Nacional da Verdade à Justiça. Na foto, ao lado do caixão, o jornalista Audálio Dantas, amigo de Vlado Herzog e presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo à época. 


AUDÁLIO DANTAS: "Desde 1964 o Sindicato dos Jornalistas estava na mão de diretores. Não vamos dizer que eles fossem apoiadores (da ditadura), mas foram no mínimo omissos. Ao assumirmos a direção em maio de 75, tínhamos consciência de que nossa função era muito mais política do que sindical. E eles (os militares) sabiam disso. Tanto é que nos documentos que consultei depois, em 2011, constava que os militares consideravam o nosso movimento uma tentativa de constituição de um partido com orientação comunista para dominar a imprensa, nacionalmente. Então, logo de início, começamos a agir como um sindicato de oposição à ditadura, discutindo a censura, organizando debates etc. Dois meses depois, como disse, estávamos envolvidos nas malhas dos militares e fomos convocados para explicar coisas. Na minha interpretação, o que aconteceu a partir da morte do Vlado foi um grito ouvido primeiro pela categoria dos jornalistas, que tinha razões de sobra para dizer “chega!”. Para se ter uma ideia, nas redações, os jornalistas recebiam frequentes comunicados dos militares sobre pessoas que morreram em confronto, em fugas, sendo que todos sabiam que não era verdade. Então houve uma reação dos jornalistas nesse sentido, pois um sindicato que era vazio de repente começou a receber jornalistas de todas as redações no dia seguinte à morte do Vlado. Eles sabiam, até por intuição, que não havia sido suicídio." 
FONTES: EBC e Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim.



15 de jun. de 2013

ABI ENVERGONHADA PERANTE JORNALISTAS MINEIROS

"Você já se sentiu envergonhado pelos outros?" - esta foi a reflexão do jornalista José Eustáquio de Oliveira, quando solicitado a contar a vergonhosa farsa de que ele e os jornalistas mineiros foram vítimas, ao aceitarem o convite de Maurício Azêdo para integrarem uma representação da Associação Brasileira de Imprensa, em Minas Gerais. O Relatório de Gestão de Azêdo contabiliza a representação mineira como uma de suas ações, mas Azêdo jamais oficializou a representação, apesar da festa grandiosa promovida por Minas para receber a entidade, que ficaria sediada na Academia Mineira de Letras (foto) e teria o jornalista José Eustáquio na direção. O presidente (hoje sub judice) da ABI não encaminhou os pedidos de filiação dos diversos jornalistas mineiros que aderiram à entidade na ocasião; aliás, nem mesmo José Eustáquio teve a sua filiação efetivada, apesar da Resolução do Conselho (veja abaixo a íntegra do documento) que autoriza a criação da representação mineira, com a indicação do nomes dos jornalistas que hoje se declaram envergonhados.  Esta é mais uma prova contundente de que o Conselho da ABI é  subordinado aos desmandos de Azêdo - um Conselho sem autoridade ou expressão. 

Assista ao vídeo do depoimento constrangido do jornalista José Eustáquio de Oliveira.




LEIA TAMBÉM:
Audálio Dantas: Uma ABI amordaçada
Andrei Bastos: A decadência da ABI 
Carlos Chagas: A ABI hoje está à margem, escantilhada 
Carlos Newton: Quarta eleição de Azêdo foi espetáculo deprimente 
Juca Kfouri: ABI precisa se abrir a novos tempos 
Joseti Marques: O que há por trás de uma luta esvaziada de interesses coletivos? 
AIP: Associação Pernambucana de Imprensa apóia a Chapa Vladimir Herzog


Leia a íntegra da Resolução que autoriza a representação da ABI em Minas Gerais.

Reunido nesta terça-feira, 28 de junho, o Conselho Deliberativo da ABI formalizou a criação da Representação da Casa no Estado de Minas Gerais, a qual fora solenemente instalada em cerimônia realizada no Salão nobre da Academia Mineira de Letras no dia 1º deste mês. A Resolução nº 1, de 2011, que cria a representação, foi aprovada por unanimidade pelo Conselho.
É este o texto do ato:
RESOLUÇÃO Nº 1, DE 2011
Cria a Representação da ABI no Estado de Minas Gerais, e dá outras providências

O Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa, no uso de suas atribuições.
RESOLVE:
Art. 1º – Fica criada a partir de 1 de junho de 2011, Dia da Imprensa, a Representação da ABI no Estado de Minas Gerais, à qual caberá coordenar as atividades e iniciativas da Casa em território mineiro.
Art. 2º – A Representação terá sede em Belo Horizonte e contará com um Diretor, um Presidente de Honra e um Conselho Consultivo, este com mandato de três anos.
Art. 3º – A Diretoria da ABI expedirá os atos regulatórios e administrativos necessários ao bom desempenho da Representação.
Art. 4º – Ficam designados:
I – Diretor da representação o jornalista José Eustáquio de Oliveira;
II – Presidente de Honra da Representação o jornalista José Mendonça;
III – Membros do Conselho Consultivo da Representação os jornalistas Carla Kreefft, Dídimo Paiva, Durval Guimarães, Eduardo Kattah, Gustavo Abreu, José Bento Teixeira de Salles, Lauro Diniz, Leida Reis, Luiz Carlos Bernardes, Márcia Cruz e Rogério Faria Tavares.
Art. 5º – Esta Resolução entra em vigor nesta data.
Sala Heitor Beltrão, 28 de junho de 2011
A Mesa Diretora do Conselho Deliberativo:
Pery Cotta
Presidente
Sérgio Luiz Caldieri
1º Secretário
Marcus Antônio Mendes Miranda
2º Secretário”



2 de jun. de 2013

A ABI QUE VOCÊ NÃO VÊ

Relatório da Diretoria da ABI. Gestão 2012/2013 - Segunda parte
                    

                     AZÊDO OMITIU DEMISSÕES      

 O Relatório de atividades da Diretoria  da ABI não resiste a um exame de lâmina em qualquer laboratório de análises clínicas. A falsificação de algumas informações é tão grosseira que pode ser identificada a olho nu. Através de uma série de contorcionismos contábeis percebe-se, ao longo do texto, que o objetivo da exposição não foi produzir um quadro fiel dos problemas que flagelam a entidade, mas encobrir os  descalabros cometidos pela atual administração da Casa. Como se pode acreditar num relatório que não tem compromisso com a verdade?   
            O que mais choca não é a manipulação dos números, facilmente percebida  (voltaremos a eles em breve),  mas determinadas omissões deliberadamente excluídas do texto com a intenção de ocultar do corpo social episódios desconcertantes, incompatíveis com as melhores tradições da ABI.  Entre os procedimentos condenáveis, um se destaca pelo aspecto infamante: a demissão  de funcionários antigos,  colocados na rua sem receber um centavo de  indenização.  Atitude ilegal e moralmente repulsiva por se tratar de servidores que doaram os melhores anos de sua vida à instituição.
            No relatório aprovado pela Assembléia-Geral não há uma única linha sobre o passivo trabalhista da entidade.  A avalanche de ações trabalhistas  movida contra a instituição, na Justiça do Rio de Janeiro, envergonha a todos nós, além de provocar sangria  desnecessária nas  anêmicas reservas financeiras da Casa.
            Como é possível uma entidade, com o passado da ABI, demitir servidores  sem indenizá-los como determina a lei? É inaceitável que uma agremiação constituída de jornalistas viole conquistas históricas da classe trabalhadora, como o direito de receber  aviso prévio, férias vencidas e horas extras,  além do livre  acesso aos recursos depositados  no FGTS. Quando essa prática perversa vira rotina, não são apenas os servidores os mais atingidos. Quem sofre a maior degradação é a própria ABI. 
            O presidente sub judice  demitiu  funcionários  de forma desapiedada, alguns com dez, vinte, trinta anos de serviço como José Pereira Sales, conhecido como Zequinha, encarregado geral da manutenção do edifício sede,  um dos  servidores mais queridos da Casa.
          Zequinha como outros colegas foi também obrigado a reclamar seus direitos na Justiça do Trabalho. Indiferente aos danos causados à imagem da ABI, o presidente sub judice  ainda  comparece às audiências de conciliação em companhia do advogado da entidade.  Diante do juiz, Azêdo chora misérias, diz que a  saúde  financeira da instituição  não é boa, apesar de afirmar o contrário no Relatório. Suplica que o valor da indenização seja parcelado em 10 ou 12 vezes, como se estivesse negociando a compra de uma geladeira nas Casas Bahia.
            Azêdo não pode continuar com duas caras: uma para o público externo e outra, talvez a verdadeira, que viceja  entre  as quatro paredes da ABI.  O presidente sub judice não pode expressar-se teatralmente, como se estivesse num palco,  sempre utilizando máscaras como um segundo rosto. Não pode se comportar como os antigos atores do teatro grego que recorriam às máscaras, não para se esconder como ele,  mas para demarcar o caráter dos personagens que interpretavam.
             A ABI não é um palco e não pode também ser usada como lona de  circo.  Não pode ser levado a sério quem recorre a diferentes disfarces ao  demitir funcionários sem pagar o que lhes é devido por lei. Todos os servidores foram afastados sem que a  Diretoria fosse consultada, numa acintosa violação do estatuto da Casa, o que não chega a ser novidade para quem conhece as misérias  e o autoritarismo da atual gestão.
      As demissões ocorreram, como de hábito,  à sorrelfa,  no finzinho do expediente, quando  as trevas  se apossam do edifício-sede  que hoje mais parece um  sarcófago.  A maioria dos funcionários afastados foi golpeada de surpresa. Alguns deixaram o prédio com os olhos molhados, como Zequinha,  que foi para casa chorando baixinho como um menino.
       Ao  defenestrar suas vítimas, o presidente sub judice teve  sempre o cuidado de exibir-se como um Pierrot, o semblante triste e teatralmente dramático, para fingir que expressava  tristeza e amargura.  
       O uso repetido da máscara, entretanto, mostrou que  o ar  de consternação  fazia  parte do espetáculo.
     A canibalização de funcionários sem receber indenização é um procedimento repulsivo numa Casa que sempre defendeu as liberdades e os direitos do cidadão.  Nada justifica tamanha violência contra o corpo de servidores da ABI, constituído de servidores que sempre tiveram orgulho em trabalhar numa instituição onde ingressaram adolescentes.
        A lista de banidos abrange em sua maioria  empregados modestos como o ascensorista Jair de Abreu, o garagista Serginho, o servente Marcelinho, o eletricista Carlos da Silva Martins e o pedreiro Fernando Tobias. 
       
O marceneiro Manuel Lima Filho, um dos profissionais mais qualificados da Casa, teve o privilégio de ser demitido pelo telefone pela mulher do presidente, que manda mais que o marido na  ABI  (essa história será também contada em detalhes). Todos os afastados, sem  exceção,  foram obrigados a recorrer à Justiça do Trabalho em busca de direitos sonegados pela  atuais inquilinos da entidade.
     As mulheres foram, talvez, as que mais sofreram com a oscilação de humor da professora Marilka Lannes, que administra a ABI como se fosse a extensão do próprio lar. Ela colocou na rua, de forma desapiedada e cruel,  a auxiliar de almoxarifado Marta Oliveira, com 16 anos de serviço. Na sua ficha funcional não havia qualquer anotação que lhe desabonasse a conduta. Tímida, reservada por temperamento e formação religiosa, Marta foi demitida sem compaixão. Como Testemunha de Jeová, ela diz ter recebido o seu afastamento como uma benção do Senhor: “Eu já não agüentava mais. Vivia tomando remédios contra a depressão porque a Dona Marilka não parava de me perseguir. Todos os dias, assim que chegava na ABI, entrava na sala e fotografava o estoque do almoxarifado só para me provocar. Ela desconfia de todo mundo.”
      Outra vítima foi a técnica de enfermagem Cristina Souza de Menezes, que durante 15 anos atendeu aos sócios no posto médico Paulo Roberto, no sexto andar do edifício-sede. Cristina foi demitida sob alegação de que a ABI pretendia fechar o posto de enfermagem e acabar com o serviço médico da Casa. Para o seu lugar foi designada a funcionária Sandra, que trabalha como copeira. Sandra desempenha duas tarefas ao mesmo tempo, acumulando diferentes funções, como a maioria dos funcionários da entidade.
Cristina, como Marta,  foi também obrigada a lutar pelos seus direitos na Justiça do Trabalho. Passou meses em dificuldade até que fosse marcada a primeira audiência de conciliação. O que se passa com a Casa dos Jornalistas onde a maioria dos funcionários  só deixava  a instituição quando se aposentava por tempo de serviço ?
      Uma das primeiras a ser abatida pelos caprichos da primeira dama foi a chefe de Tesouraria Martirene  Paula de Oliveira, com 12 anos de ABI, muito querida pelo corpo social. “A mulher do presidente me odiava”, lembra Martirene. Vanessa, que ocupou o lugar de Martirene, não chegou a esquentar a cadeira. Ao perceber o chão movediço em que trabalhava, pediu  demissão e  foi embora. Simone Romeu, que sucedeu Vanessa na Tesouraria, não conhecia o terreno que pisava. Manteve-se no cargo durante alguns anos, mas em outubro passado sofreu um colapso nervoso ao saber que estava demitida. O presidente sub judice, que lhe deu a notícia, em seu gabinete, tentou tranqüilizá-la pessoalmente. Garantiu que  receberia  “tudo a que tinha direito”. Simone não percebeu que Azêdo usava a máscara de um   Pierrot.
        Durante dias seguidos Simone ligou para a ABI. Queria apenas saber quando  sua demissão seria homologada no sindicato. Uma semana depois de tentar inutilmente falar com a direção da Casa, foi informada de que deveria procurar a Justiça do Trabalho: “Eu estava em tratamento médico, não tinha dinheiro para comprar  remédios,  enfrentei  dificuldades, durante vários meses. O presidente não honrou o acordo que fez comigo”, desabafou Simone, que ainda não se recuperou  emocionalmente do trauma sofrido no final do ano passado.
        A jornalista Solange Noronha, editora do site da ABI, foi também afastada sem indenização e briga pelos seus direitos na justiça trabalhista, depois de um desentendimento banal com Marilka e, depois, com o marido, que tomou as dores da mulher.
      Afinal, por que o  presidente sub judice  age dessa maneira ?
        A verdade é que ele jamais se importou com a desgraça dos  demitidos, apesar de se apresentar  publicamente como defensor dos oprimidos.  Por uma dessas vilezas do destino, Azêdo acabaria vitimado pelos próprios disfarces. Com o excesso de uso, as máscaras se desafivelaram  e ele  viu-se, de repente,  obrigado a exibir sua verdadeira face.
        Mas ainda há tempo  de impedir que a ABI se transforme numa versão cabocla do bairro londrino de Whitchepal, onde vítimas indefesas amanheciam  evisceradas, amontoadas pelas calçadas, no final do século XIX. Mortes ainda muito vivas no imaginário coletivo da Inglaterra. Episódios dramáticos que até hoje cobrem o país  de vergonha e horror.

   Não podemos permitir que essa história macabra se repita entre nós