Relatório
da Diretoria da ABI. Gestão 2012/2013 - Segunda
parte
AZÊDO OMITIU DEMISSÕES
O
Relatório de atividades da Diretoria
da ABI não resiste a um exame de lâmina em qualquer laboratório de
análises clínicas. A falsificação de algumas informações é tão grosseira que
pode ser identificada a olho nu. Através de uma série de contorcionismos
contábeis percebe-se, ao longo do texto, que o objetivo da exposição não foi
produzir um quadro fiel dos problemas que flagelam a entidade, mas encobrir
os descalabros cometidos pela
atual administração da Casa. Como se pode acreditar num relatório que não tem
compromisso com a verdade?
O
que mais choca não é a manipulação dos números, facilmente percebida (voltaremos a eles em breve), mas determinadas omissões
deliberadamente excluídas do texto com a intenção de ocultar do corpo social
episódios desconcertantes, incompatíveis com as melhores tradições da ABI. Entre os procedimentos condenáveis, um
se destaca pelo aspecto infamante: a demissão de funcionários antigos, colocados na rua sem receber um centavo de indenização. Atitude ilegal e moralmente repulsiva por se tratar de
servidores que doaram os melhores anos de sua vida à instituição.
No
relatório aprovado pela Assembléia-Geral não há uma única linha sobre o passivo
trabalhista da entidade. A
avalanche de ações trabalhistas
movida contra a instituição, na Justiça do Rio de Janeiro, envergonha a
todos nós, além de provocar sangria
desnecessária nas anêmicas
reservas financeiras da Casa.
Como
é possível uma entidade, com o passado da ABI, demitir servidores sem indenizá-los como determina a lei?
É inaceitável que uma agremiação constituída de jornalistas viole conquistas
históricas da classe trabalhadora, como o direito de receber aviso prévio, férias vencidas e horas
extras, além do livre acesso aos recursos depositados no FGTS. Quando essa prática perversa
vira rotina, não são apenas os servidores os mais atingidos. Quem sofre a maior
degradação é a própria ABI.
O
presidente sub judice demitiu funcionários de
forma desapiedada, alguns com dez, vinte, trinta anos de serviço como José
Pereira Sales, conhecido como Zequinha, encarregado geral da manutenção do edifício
sede, um dos servidores mais queridos da Casa.
Zequinha
como outros colegas foi também obrigado a reclamar seus direitos na Justiça do
Trabalho. Indiferente aos danos causados à imagem da ABI, o presidente sub judice ainda comparece
às audiências de conciliação em companhia do advogado da entidade. Diante do juiz, Azêdo chora misérias,
diz que a saúde financeira da instituição não é boa, apesar de afirmar o
contrário no Relatório. Suplica que o valor da indenização seja parcelado em 10
ou 12 vezes, como se estivesse negociando a compra de uma geladeira nas Casas
Bahia.
Azêdo
não pode continuar com duas caras: uma para o público externo e outra, talvez a
verdadeira, que viceja entre as quatro paredes da ABI. O presidente sub judice não pode expressar-se teatralmente, como se estivesse
num palco, sempre utilizando
máscaras como um segundo rosto. Não pode se comportar como os antigos atores do
teatro grego que recorriam às máscaras, não para se esconder como ele, mas para demarcar o caráter dos
personagens que interpretavam.
A
ABI não é um palco e não pode também ser usada como lona de circo. Não pode ser levado a sério quem recorre a diferentes
disfarces ao demitir funcionários
sem pagar o que lhes é devido por lei. Todos os servidores foram afastados sem
que a Diretoria fosse consultada,
numa acintosa violação do estatuto da Casa, o que não chega a ser novidade para
quem conhece as misérias e o
autoritarismo da atual gestão.
As demissões
ocorreram, como de hábito, à
sorrelfa, no finzinho do
expediente, quando as trevas se apossam do edifício-sede que hoje mais parece um sarcófago. A maioria dos funcionários afastados foi golpeada de
surpresa. Alguns deixaram o prédio com os olhos molhados, como Zequinha, que foi para casa chorando baixinho como
um menino.
Ao defenestrar suas vítimas, o presidente sub judice teve sempre o cuidado de exibir-se como um
Pierrot, o semblante triste e teatralmente dramático, para fingir que
expressava tristeza e amargura.
O uso repetido da máscara, entretanto, mostrou que o ar de consternação fazia parte do espetáculo.
O uso repetido da máscara, entretanto, mostrou que o ar de consternação fazia parte do espetáculo.
A canibalização de
funcionários sem receber indenização é um procedimento repulsivo numa Casa que
sempre defendeu as liberdades e os
direitos do cidadão. Nada
justifica tamanha violência contra o corpo de servidores da ABI, constituído de
servidores que sempre tiveram orgulho em trabalhar numa instituição onde
ingressaram adolescentes.
A
lista de banidos abrange em sua maioria
empregados modestos como o ascensorista Jair de Abreu, o garagista
Serginho, o servente Marcelinho, o eletricista Carlos da Silva Martins e o
pedreiro Fernando Tobias.
O marceneiro Manuel Lima Filho, um dos profissionais mais qualificados da Casa, teve o privilégio de ser demitido pelo telefone pela mulher do presidente, que manda mais que o marido na ABI (essa história será também contada em detalhes). Todos os afastados, sem exceção, foram obrigados a recorrer à Justiça do Trabalho em busca de direitos sonegados pela atuais inquilinos da entidade.
O marceneiro Manuel Lima Filho, um dos profissionais mais qualificados da Casa, teve o privilégio de ser demitido pelo telefone pela mulher do presidente, que manda mais que o marido na ABI (essa história será também contada em detalhes). Todos os afastados, sem exceção, foram obrigados a recorrer à Justiça do Trabalho em busca de direitos sonegados pela atuais inquilinos da entidade.
As mulheres foram,
talvez, as que mais sofreram com a oscilação de humor da professora Marilka
Lannes, que administra a ABI como se fosse a extensão do próprio lar. Ela
colocou na rua, de forma desapiedada e cruel, a auxiliar de almoxarifado Marta Oliveira, com 16 anos de
serviço. Na sua ficha funcional não havia qualquer anotação que lhe desabonasse
a conduta. Tímida, reservada por temperamento e formação religiosa, Marta foi
demitida sem compaixão. Como Testemunha de Jeová, ela diz ter recebido o seu
afastamento como uma benção do Senhor: “Eu já não agüentava mais. Vivia tomando
remédios contra a depressão porque a Dona Marilka não parava de me perseguir.
Todos os dias, assim que chegava na ABI, entrava na sala e fotografava o
estoque do almoxarifado só para me provocar. Ela desconfia de todo mundo.”
Outra vítima
foi a técnica de enfermagem Cristina Souza de Menezes, que durante 15 anos
atendeu aos sócios no posto médico Paulo Roberto, no sexto andar do
edifício-sede. Cristina foi demitida sob alegação de que a ABI pretendia fechar
o posto de enfermagem e acabar com o serviço médico da Casa. Para o seu lugar
foi designada a funcionária Sandra, que trabalha como copeira. Sandra
desempenha duas tarefas ao mesmo tempo, acumulando diferentes funções, como a
maioria dos funcionários da entidade.
Cristina,
como Marta, foi também obrigada a
lutar pelos seus direitos na Justiça do Trabalho. Passou meses em dificuldade
até que fosse marcada a primeira audiência de conciliação. O que se passa com a
Casa dos Jornalistas onde a maioria dos funcionários só deixava a
instituição quando se aposentava por tempo de serviço ?
Uma das primeiras a
ser abatida pelos caprichos da primeira dama foi a chefe de Tesouraria
Martirene Paula de Oliveira, com
12 anos de ABI, muito querida pelo corpo social. “A mulher do presidente me
odiava”, lembra Martirene. Vanessa,
que ocupou o lugar de Martirene, não chegou a esquentar a cadeira. Ao perceber
o chão movediço em que trabalhava, pediu
demissão e foi embora.
Simone Romeu, que sucedeu Vanessa na Tesouraria, não conhecia o terreno que
pisava. Manteve-se no cargo durante alguns anos, mas em outubro passado sofreu
um colapso nervoso ao saber que estava demitida. O presidente sub judice, que lhe deu a notícia, em
seu gabinete, tentou tranqüilizá-la pessoalmente. Garantiu que receberia “tudo a que tinha direito”. Simone não percebeu que Azêdo
usava a máscara de um
Pierrot.
Durante
dias seguidos Simone ligou para a ABI. Queria apenas saber quando sua demissão seria homologada no
sindicato. Uma semana depois de tentar inutilmente falar com a direção da Casa,
foi informada de que deveria procurar a Justiça do Trabalho: “Eu estava
em tratamento médico, não tinha dinheiro para comprar remédios,
enfrentei dificuldades,
durante vários meses. O presidente não honrou o acordo que fez comigo”, desabafou
Simone, que ainda não se recuperou
emocionalmente do trauma sofrido no final do ano passado.
A
jornalista Solange Noronha, editora do site da ABI, foi também afastada sem indenização
e briga pelos seus direitos na justiça trabalhista, depois de um
desentendimento banal com Marilka e, depois, com o marido, que tomou as dores
da mulher.
Afinal, por que
o presidente sub judice age dessa
maneira ?
A
verdade é que ele jamais se importou com a desgraça dos demitidos, apesar de se apresentar publicamente como defensor dos
oprimidos. Por uma dessas vilezas
do destino, Azêdo acabaria vitimado pelos próprios disfarces. Com o excesso de
uso, as máscaras se desafivelaram
e ele viu-se, de
repente, obrigado a exibir sua
verdadeira face.
Mas
ainda há tempo de impedir que a
ABI se transforme numa versão cabocla do bairro londrino de Whitchepal, onde
vítimas indefesas amanheciam
evisceradas, amontoadas pelas calçadas, no final do século XIX. Mortes
ainda muito vivas no imaginário coletivo da Inglaterra. Episódios dramáticos
que até hoje cobrem o país de
vergonha e horror.
Não podemos permitir que essa
história macabra se repita entre nós
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