2 de jun. de 2013

A ABI QUE VOCÊ NÃO VÊ

Relatório da Diretoria da ABI. Gestão 2012/2013 - Segunda parte
                    

                     AZÊDO OMITIU DEMISSÕES      

 O Relatório de atividades da Diretoria  da ABI não resiste a um exame de lâmina em qualquer laboratório de análises clínicas. A falsificação de algumas informações é tão grosseira que pode ser identificada a olho nu. Através de uma série de contorcionismos contábeis percebe-se, ao longo do texto, que o objetivo da exposição não foi produzir um quadro fiel dos problemas que flagelam a entidade, mas encobrir os  descalabros cometidos pela atual administração da Casa. Como se pode acreditar num relatório que não tem compromisso com a verdade?   
            O que mais choca não é a manipulação dos números, facilmente percebida  (voltaremos a eles em breve),  mas determinadas omissões deliberadamente excluídas do texto com a intenção de ocultar do corpo social episódios desconcertantes, incompatíveis com as melhores tradições da ABI.  Entre os procedimentos condenáveis, um se destaca pelo aspecto infamante: a demissão  de funcionários antigos,  colocados na rua sem receber um centavo de  indenização.  Atitude ilegal e moralmente repulsiva por se tratar de servidores que doaram os melhores anos de sua vida à instituição.
            No relatório aprovado pela Assembléia-Geral não há uma única linha sobre o passivo trabalhista da entidade.  A avalanche de ações trabalhistas  movida contra a instituição, na Justiça do Rio de Janeiro, envergonha a todos nós, além de provocar sangria  desnecessária nas  anêmicas reservas financeiras da Casa.
            Como é possível uma entidade, com o passado da ABI, demitir servidores  sem indenizá-los como determina a lei? É inaceitável que uma agremiação constituída de jornalistas viole conquistas históricas da classe trabalhadora, como o direito de receber  aviso prévio, férias vencidas e horas extras,  além do livre  acesso aos recursos depositados  no FGTS. Quando essa prática perversa vira rotina, não são apenas os servidores os mais atingidos. Quem sofre a maior degradação é a própria ABI. 
            O presidente sub judice  demitiu  funcionários  de forma desapiedada, alguns com dez, vinte, trinta anos de serviço como José Pereira Sales, conhecido como Zequinha, encarregado geral da manutenção do edifício sede,  um dos  servidores mais queridos da Casa.
          Zequinha como outros colegas foi também obrigado a reclamar seus direitos na Justiça do Trabalho. Indiferente aos danos causados à imagem da ABI, o presidente sub judice  ainda  comparece às audiências de conciliação em companhia do advogado da entidade.  Diante do juiz, Azêdo chora misérias, diz que a  saúde  financeira da instituição  não é boa, apesar de afirmar o contrário no Relatório. Suplica que o valor da indenização seja parcelado em 10 ou 12 vezes, como se estivesse negociando a compra de uma geladeira nas Casas Bahia.
            Azêdo não pode continuar com duas caras: uma para o público externo e outra, talvez a verdadeira, que viceja  entre  as quatro paredes da ABI.  O presidente sub judice não pode expressar-se teatralmente, como se estivesse num palco,  sempre utilizando máscaras como um segundo rosto. Não pode se comportar como os antigos atores do teatro grego que recorriam às máscaras, não para se esconder como ele,  mas para demarcar o caráter dos personagens que interpretavam.
             A ABI não é um palco e não pode também ser usada como lona de  circo.  Não pode ser levado a sério quem recorre a diferentes disfarces ao  demitir funcionários sem pagar o que lhes é devido por lei. Todos os servidores foram afastados sem que a  Diretoria fosse consultada, numa acintosa violação do estatuto da Casa, o que não chega a ser novidade para quem conhece as misérias  e o autoritarismo da atual gestão.
      As demissões ocorreram, como de hábito,  à sorrelfa,  no finzinho do expediente, quando  as trevas  se apossam do edifício-sede  que hoje mais parece um  sarcófago.  A maioria dos funcionários afastados foi golpeada de surpresa. Alguns deixaram o prédio com os olhos molhados, como Zequinha,  que foi para casa chorando baixinho como um menino.
       Ao  defenestrar suas vítimas, o presidente sub judice teve  sempre o cuidado de exibir-se como um Pierrot, o semblante triste e teatralmente dramático, para fingir que expressava  tristeza e amargura.  
       O uso repetido da máscara, entretanto, mostrou que  o ar  de consternação  fazia  parte do espetáculo.
     A canibalização de funcionários sem receber indenização é um procedimento repulsivo numa Casa que sempre defendeu as liberdades e os direitos do cidadão.  Nada justifica tamanha violência contra o corpo de servidores da ABI, constituído de servidores que sempre tiveram orgulho em trabalhar numa instituição onde ingressaram adolescentes.
        A lista de banidos abrange em sua maioria  empregados modestos como o ascensorista Jair de Abreu, o garagista Serginho, o servente Marcelinho, o eletricista Carlos da Silva Martins e o pedreiro Fernando Tobias. 
       
O marceneiro Manuel Lima Filho, um dos profissionais mais qualificados da Casa, teve o privilégio de ser demitido pelo telefone pela mulher do presidente, que manda mais que o marido na  ABI  (essa história será também contada em detalhes). Todos os afastados, sem  exceção,  foram obrigados a recorrer à Justiça do Trabalho em busca de direitos sonegados pela  atuais inquilinos da entidade.
     As mulheres foram, talvez, as que mais sofreram com a oscilação de humor da professora Marilka Lannes, que administra a ABI como se fosse a extensão do próprio lar. Ela colocou na rua, de forma desapiedada e cruel,  a auxiliar de almoxarifado Marta Oliveira, com 16 anos de serviço. Na sua ficha funcional não havia qualquer anotação que lhe desabonasse a conduta. Tímida, reservada por temperamento e formação religiosa, Marta foi demitida sem compaixão. Como Testemunha de Jeová, ela diz ter recebido o seu afastamento como uma benção do Senhor: “Eu já não agüentava mais. Vivia tomando remédios contra a depressão porque a Dona Marilka não parava de me perseguir. Todos os dias, assim que chegava na ABI, entrava na sala e fotografava o estoque do almoxarifado só para me provocar. Ela desconfia de todo mundo.”
      Outra vítima foi a técnica de enfermagem Cristina Souza de Menezes, que durante 15 anos atendeu aos sócios no posto médico Paulo Roberto, no sexto andar do edifício-sede. Cristina foi demitida sob alegação de que a ABI pretendia fechar o posto de enfermagem e acabar com o serviço médico da Casa. Para o seu lugar foi designada a funcionária Sandra, que trabalha como copeira. Sandra desempenha duas tarefas ao mesmo tempo, acumulando diferentes funções, como a maioria dos funcionários da entidade.
Cristina, como Marta,  foi também obrigada a lutar pelos seus direitos na Justiça do Trabalho. Passou meses em dificuldade até que fosse marcada a primeira audiência de conciliação. O que se passa com a Casa dos Jornalistas onde a maioria dos funcionários  só deixava  a instituição quando se aposentava por tempo de serviço ?
      Uma das primeiras a ser abatida pelos caprichos da primeira dama foi a chefe de Tesouraria Martirene  Paula de Oliveira, com 12 anos de ABI, muito querida pelo corpo social. “A mulher do presidente me odiava”, lembra Martirene. Vanessa, que ocupou o lugar de Martirene, não chegou a esquentar a cadeira. Ao perceber o chão movediço em que trabalhava, pediu  demissão e  foi embora. Simone Romeu, que sucedeu Vanessa na Tesouraria, não conhecia o terreno que pisava. Manteve-se no cargo durante alguns anos, mas em outubro passado sofreu um colapso nervoso ao saber que estava demitida. O presidente sub judice, que lhe deu a notícia, em seu gabinete, tentou tranqüilizá-la pessoalmente. Garantiu que  receberia  “tudo a que tinha direito”. Simone não percebeu que Azêdo usava a máscara de um   Pierrot.
        Durante dias seguidos Simone ligou para a ABI. Queria apenas saber quando  sua demissão seria homologada no sindicato. Uma semana depois de tentar inutilmente falar com a direção da Casa, foi informada de que deveria procurar a Justiça do Trabalho: “Eu estava em tratamento médico, não tinha dinheiro para comprar  remédios,  enfrentei  dificuldades, durante vários meses. O presidente não honrou o acordo que fez comigo”, desabafou Simone, que ainda não se recuperou  emocionalmente do trauma sofrido no final do ano passado.
        A jornalista Solange Noronha, editora do site da ABI, foi também afastada sem indenização e briga pelos seus direitos na justiça trabalhista, depois de um desentendimento banal com Marilka e, depois, com o marido, que tomou as dores da mulher.
      Afinal, por que o  presidente sub judice  age dessa maneira ?
        A verdade é que ele jamais se importou com a desgraça dos  demitidos, apesar de se apresentar  publicamente como defensor dos oprimidos.  Por uma dessas vilezas do destino, Azêdo acabaria vitimado pelos próprios disfarces. Com o excesso de uso, as máscaras se desafivelaram  e ele  viu-se, de repente,  obrigado a exibir sua verdadeira face.
        Mas ainda há tempo  de impedir que a ABI se transforme numa versão cabocla do bairro londrino de Whitchepal, onde vítimas indefesas amanheciam  evisceradas, amontoadas pelas calçadas, no final do século XIX. Mortes ainda muito vivas no imaginário coletivo da Inglaterra. Episódios dramáticos que até hoje cobrem o país  de vergonha e horror.

   Não podemos permitir que essa história macabra se repita entre nós

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