4 de dez. de 2013

JUSTIÇA CASSA ATOS DE AVENTUREIROS

Depois de nossa publicação dando conta dos últimos acontecimentos, tivemos notícia de que vários jornalistas entraram com pedido individuais de liminar contra as arbitrariedades que estão sendo cometidas na ABI. 

No final da tarde de ontem (04/12), respondendo a uma dessas ações, o juiz manda anular todas as decisões tomadas pelos aventureiros que se encastelaram na entidade e promoveram uma Assembleia Geral Extraordinária na qual elegeram um novo presidente, conforme relatamos (saiba mais aqui). Leia o texto do despacho da justiça:

"1. Considerando que o presidente que veio a falecer é o que foi eleito na chapa invalidada pelo juízo da 8º Vara Cível da Capital, o qual inclusive nos autos do processo nº 0107472-04.2013.8.13.0001 determinou que enquanto não realizado novo certame, deve ser mantida a administração anterior com todos os seus componentes, defiro o pedido formulado em sede de tutela antecipada para manter o autor em seu cargo de diretor administrativo até que nova presidência e diretoria venham a tomar posse. Expeça-se mandado para cumprimento da presente decisão na pessoa do atual ocupante da presidência, sob pena de multa que arbitro em R$ 20.000,00 para a prática de cada ato que impeça o autor do exercício da sua função. 2. O pedido de realização de nova eleição será apreciado após a resposta, em observância ao principio do contraditório. 3. Apresente, o autor, a cópia do Estatuto Social na parte que trata da realização de nova eleição. 4. Cite-se."


  

UMA INSTITUIÇÃO TOMADA DE ASSALTO

Caros amigos,
O que temíamos e denunciamos na postagem anterior a esta acabou por acontecer. A convocação da Assembleia Extraordinária feita pelos ocupantes sub judice da ABI para legitimar o golpe foi instalada com "meia dúzia de gatos pingados", como informa um dos conselheiros e Primeiro Secretário do Conselho Deliberativo, em carta aberta aos associados, que transcrevemos abaixo. As datas e horários divergentes nas diversas comunicações certamente confundiu alguns dos associados, impedindo que comparecessem para opor, quem sabe, alguma resistência ao que o conselheiro descreve como "palhaçada".

Mas é necessário que se faça uma constatação, por mais dura que seja: a ABI está perdendo a passos largos a sua importância perante os jornalistas e a sociedade, que já não se mobilizam para protegê-la como instância legítima de defesa das liberdades e dos direitos democráticos, mediadora dos interesses dos cidadãos nas mais diversas instâncias de poder. Uns poucos de nós se congregam em torno da Chapa Vladimir Herzog como uma resistência quixotesca, denunciando o solapamento da história e da tradição da entidade. Mas somos apenas uns poucos  dentre os muitos que formam a categoria; tão poucos que "meia dúzia de gatos pingados" é capaz de decidir por um destino infame para a ABI. Somos poucos para a urgência que a tarefa impõe. Se os jornalistas não se mobilizarem, a ABI vai definhar nas mãos de aventureiros. 

No site da entidade, uma notícia tosca, que carece do mais simplório acabamento jornalístico, informa, como que envergonhada pelas omissões dos fatos, quem é o novo presidente. Na foto, Fichel Davit Chargel em reluzente terno branco, com olhar enviesado, parecendo também envergonhado de si mesmo - triste figura.

A carta que transcrevemos abaixo é de um membro do grupo que forma o Conselho Deliberativo, ora sub judice, e que ocupa um cargo de relevância - o de Primeiro Secretário do Conselho. Portanto, é uma opinião isenta quanto à posição que defendemos aqui neste blog da Chapa Vladimir Herzog. A posição do jornalista, neste manifesto, é de sua inteira autoria e responsabilidade. Pereira da Silva estava presente à assembleia e, como faria qualquer jornalista, não compactuou com o espetáculo deprimente que lança a ABI à sua mais sombria sorte. 

Neste momento, sentimos que a Associação Brasileira de Imprensa está de luto.
 Leiam a carta.


PALHAÇADA
Por: Pereira da Silva, Pereirinha
Primeiro Secretário do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

O nono andar do Edifício Herbert Moses assistiu, envergonhado, terça, dia 3 do corrente ano, um espetáculo triste e deprimente, que jamais imaginaria, nem ele nem os sábios defensores da legalidade, das liberdades democráticas, da honradez e da honestidade, como Barbosa Lima Sobrinho e Maurício Azêdo. 

Maurício Azêdo tudo faria para defender suas ideias e seus ideais, mas jamais agiria como Brutos ou, perdão queridos e amados palhaços, transformaria a ABI num picadeiro e se transformaria em palhaço para fazer da responsabilidade uma palhaçada. Fichel Davit Chargel, ao protagonizar a palhaçada, apenas disse a todos os associados da ABI, principalmente aos integrantes do Conselho Deliberativo, que não está à altura do cargo que ocupa e, em vista disso, precisa a todo instante ser advertido e lembrado dos seus deveres e responsabilidades.

É uma pena que tenha que ser assim, mas não tem outro jeito, porque criança, os adultos responsáveis tratam como criança, justamente para que ela respeite os seus limites e, quando crescer, respeite os mais velhos e haja como cidadão honrado e capaz. Como presidente da ABI, Fichel Davit Chargel deve sempre ter em mente que não é presidente de uma entidade sindical, que age sorrateiramente para derrotar os inimigos. Como presidente da ABI, Davit tem outras e nobres responsabilidades. Ao assinar nota, envolvendo a ABI com os mensaleiros do PT, nosso companheiro Milton Temer o defendeu, dizendo que ele assinou aquilo sob pressão. 

Ora, meu caro Milton, se o fez sob pressão, aceitando fazer parte de uma aleivosia condenável, Davit mostrou-se ser um fraco e sem condições para conduzir os destinos da ABI. Vamos recordar, pois, que a ABI não é partido político, muito menos é PT ou o diabo que o valha, nem sindicato. A ABI é uma agremiação de homens e mulheres que pensam o Brasil e os direitos dos homens livres, de uma imprensa sem mordaça, independente de sua ideologia política e orientação editorial. 

Como, meu caro Milton, queremos ser conduzidos? Como pessoas livres ou não? Quando cheguei terça-feira no Edifício Herbert Moses fui informado que a Assembleia Geral Extraordinária para referendar o nome do Davit foi instalada às 10 e encerrada às 11h, num passe de mágica. E quem referendou o Davit? Meia dúzia de gatos pingados. Isso não é referendo, é uma farsa. Lamentável e triste farsa. Uma palhaçada. Triste palhaçada que envergou o picadeiro. Meia dúzia de gatos pingados levantou as mãos e referendou o novo rei. 

Só tem um detalhe. Enquanto Maurício Azêdo era vivo, Fichel Davit Chargel exigia enfaticamente o cumprimento do Estatuto e do Regimento Interno da ABI. Pois bem, todos nós conselheiros deveremos encarnar o personagem vivido por Davit, em passado recente, para exigir o cumprimento do Estatuto e do Regimento Interno da ABI.
       
       

1 de dez. de 2013

O DIABO ESTÁ NOS DETALHES

"The devil is in detail", ensina um velho ditado inglês da idade média que aconselha cautela diante das aparências. A velha sabedoria britânica recomenda como  aprender a ler o que está nas entrelinhas. É justamente nos desvãos sombrios, onde a luz não alcança, que o Demo, Mefistófeles, Belzebu ou o Sujo, vestido com as roupas da infâmia, ferve e tempera as apostasias que asperge, como  água benta, sobre a cabeça das pessoas ingênuas. Finge usar os santos óleos do sacramento do  batismo para semear o mal . 

Satanás, Canhoto, Efialta ou Asmodeu,  também conhecido como "o pai da mentira", só consegue  mover-se no território das  trevas, como atestam os antigos tratados de Demonologia. Age sempre "ao arrepio da Lei", expressão jurídica usada para indicar tudo aquilo que está associado ao mundo obscuro da ilegalidade, do que vai em sentido contrário ao que determina a lei  e é isso, em linhas gerais, o que está acontecendo com a ABI neste momento. 

Ao arrepio da decisão judicial proferida pela Juíza  Maria da Glória Oliveira Bandeira de Mello, da 8ª Vara Cível (veja aqui), o grupo que tomou a ABI de assalto cevou, num texto capiroto,  a convocação de uma Assembléia Extraordinária para tentar legitimar o golpe manu militari perpetrado em 29 de outubro, quatro dias após a morte do presidente da instituição. Ao transformarem uma Sessão Ordinária do Conselho Deliberativo em Extraordinária, com base num parecer jurídico caseiro que exalava enxofre, sem qualquer valor legal, os seguidores de Belgafor cassaram o mandato do vice-presidente Tarcísio Holanda, impedindo-o de exercer o direito legítimo de assumir a presidência da ABI. Agindo sempre de forma enviesada, como convém a golpistas escorados na arte da prestidigitação, entronizaram em seu lugar o diretor de administração Fichel Davit Chargel, numa  cerimônia esquisita, para se dizer o mínimo.

Mas não para por aí a procissão de ar vaporoso a que se referiu, certa vez, Baudelaire ao escrever "As Flores do Mal". Os golpistas, em desavergonhada ação de má-fe, tentam esquivar-se, na Assembléia irregular que planejam, do risco de serem confrontados por sócios que certamente não se aliariam a tamanha iniquidade de que tem sido vítima a ABI. Sob a inspiração maligna do Imundo, divulgaram datas e horários diferentes em diversas comunicações sobre a convocação, o que, além de má-fé, é também uma demonstração de estultice. 

No edital publicado no Jornal da ABI, edição 394, a convocação da Assembléia-Geral Extraordinária foi marcada para 29 de novembro, às 10h. No site da entidade, o Edital de Convocação saiu com data diferente: 3 de dezembro, às 10h. Em carta enviada ao corpo social, o grupo que se encastelou na ABI fez nova alteração no edital, transferindo a Assembléia-Geral das dez para as duas da tarde. 

Além de terem cometido várias trapalhadas na confecção do texto da convocação – que além de mal redigido não tem nenhum valor legal – cometeram outro grave pecado: não comunicaram ao juízo da 8ª Vara Cível que pretendiam realizar uma Assembléia-Geral. A Diretoria e o Conselho omitiram do corpo social que se encontram sub judice, ou seja, seus atos poderão ser considerados nulos quando a sentença final for decretada.

E mais: insistem em esconder dos associados que existe uma tutela antecipada da Juíza Maria da Glória Bandeira de Mello, onde ela reconhece a existência de irregularidades no processo eleitoral e anula a eleição de abril. A sentença definitiva ainda não saiu, mas a tutela antecipada diz o que a Justiça apurou nos autos  e nossas provas são materiais, concretas! 

Em audiência no dia l8 de novembro, depois de ouvir as testemunhas da defesa, a juíza abriu ainda um novo prazo para apresentação de memoriais. Ela poderia ter batido o martelo, mas permitiu que os réus utilizassem todos os recursos previstos no Código Civil. Ao abrir prazo para os memoriais ela quis evitar que, depois de proferida a sentença, os advogados do Escritório Siqueira Castro, um dos mais caros do país,  alegassem que seus clientes tiveram cerceado o seu amplo direito de defesa.

Mas a mentira e a má-fe tem rabo, chifres e  pernas curtas  como o Cramulhano. É impossível suportá-las por muito tempo. Na audiência, as testemunhas de defesa (de defesa deles!) confirmaram a denúncia dos autos. O diretor administrativo, ilegitimamente alçado à presidência da ABI, compareceu à audiência travestido de representante legal da instituição.  Entrou mudo e saiu calado. Estava abatido e trêmulo como os falsos atores que naufragam diante de papéis que exigem paixão, competência, talento e, acima de tudo, sinceridade. Deixou a sala de audiências como um figurante. Apesar da cortina, era possível identificar os pés de quem movia os cordéis.

Ao notar que o advogado da Chapa Vladimir Herzog  não reconhecia Chargel como representante legal da ABI, a  Juíza procurou acalmá-lo.  Observou que o cargo por ele ocupado não poderia ser questionado naquele processo, mas em outra ação judicial. 

E foi o que fizemos! 


O Diabo, meus amigos, costuma esconder-se nos detalhes...



10 de nov. de 2013

MULHER DO PRESIDENTE MORTO CONTINUA DANDO AS CARTAS

Os ventos da indignação trazem notícias dos porões da nau da insensatez - Marilka Lannes, viúva do recém falecido presidente da ABI, continua dando as cartas na entidade, reunindo-se na sala da presidência com os diretores, dando ordens aos funcionários, como se houvesse finalmente assumido a cadeira deixada vaga pelo marido morto. Uma situação digna de uma ópera bufa, protagonizada pela ex-atriz e funcionária fantasma do Tribunal de Contas do Município, conforme denunciou o jornal Extra (veja na Coluna de Berenice Seara). Note bem: Marilka Lannes não é jornalista e nem funcionária da ABI. Ela é funcionária do TCM, tendo sido secretária de Azêdo quando ele foi conselheiro da entidade. Aliás, Fichel Davit Chargel também era da... digamos... equipe.

Ficam no ar as perguntas que os ventos que sopram de lá insistem em fazer: por que essa senhora, que deveria estar recolhida ao luto, insiste em não se desligar da ABI, instituição da qual nem mesmo pode ser associada? Terá ela se aproveitado da brecha da lei e conseguido um registro precário de jornalista? Será que pensa que o fato de ter sido mulher do presidente da ABI lhe confere essa prerrogativa? Ou terá negócios deixados lá e pelos quais ainda zela? São muitas as perguntas sem respostas, já  que os cargos na ABI não são comissionados, exigindo dos seus diretores e membros o mais aguerrido esforço gratuito, de doação. Doação de competência, de horas de trabalho, de prestígio pessoal, de dedicação. Será isso o que move a horda enfurecida que pisoteou o Estatuto da entidade com uma interpretação golpista? 

Os advogados do famoso escritório Siqueira e Castro devem estar orientando os aloprados a se comportarem com um mínimo de dignidade. Ou, quem sabe, os insensatos deram-se conta de que as irregularidades que cometeram para usurpar a presidência da ABI de seu sucessor natural, embora os alçasse indevidamente ao posto, não os livraria da vergonha de se mostrarem como são à luz dos fatos. Primeiro, tentaram disfarçar a burrada publicando no site da ABI uma suposta convocação para a reunião ordinária que já havia ocorrido e que foi transformada, por votação entre eles, em "extraordinária" (saiba mais sobre isso em "Nau da insensatez"). 

Não imaginavam, os astutos, que o site registra automaticamente a data e a hora das publicações. Tendo sido flagrados, apressaram-se em publicar desculpas esfarrapadas em texto eivado de ofensas à chapa de oposição - e ao bom uso da língua pátria, diga-se de passagem. Ofensas ao lixo, não conseguiram justificar a tramóia que impediu a posse do vice-presidente legítimo Tarcísio Holanda, que viera de Brasília justamente para assumir o comando da entidade. Tarcísio Holanda foi humilhado naquela reunião canhestra e se disse enojado diante daquelas pessoas.

Ainda na tentativa de abafar o que fizeram e resistindo à retomada da normalidade democrática na entidade, publicaram no Diário Oficial, certamente orientados por advogados, a convocação de uma "eleição" para 3/12, para decidirem quem ocupará a presidência da ABI, diante da morte de Azêdo. Infelizmente está em curso o pior momento da entidade, promovido por aqueles a quem Maurício Azêdo escolheu para estar a seu lado, e por aqueles a quem ele próprio já havia banido e que voltam agora para encenar um lamentável golpe de caserna contra um general fantasma.

A Associação Brasileira de Imprensa, neste momento crucial de sua história, está transfigurada em hospício, refém de aventureiros dos mais diversos matizes, de um conselho que tem sua legitimidade contestada e de uma diretoria mancomunada com a mulher de um presidente morto que estava também sub judice. 






7 de nov. de 2013

Repercussão do golpe na ABI


A edição de número 922 do jornal eletrônico Jornalistas&Cia que circula hoje traz uma reportagem sobre o escandaloso golpe perpetrado pelo grupo que compõe o Conselho Deliberativo sub judice da ABI. O diretor de Administração, Fichel Davit Chargel, que de forma enviesada foi conduzido à presidência da entidade, cargo deixado vago com a morte de Maurício Azêdo,  mal consegue justificar a interpretação insidiosa que usaram como argumento para impedir a posse do vice-presidente, Tarcísio Holanda. 

A reportagem traz ainda um depoimento emocionado da jornalista Maria Clara Capiberibe Azêdo, filha do primeiro casamento de Maurício Azêdo. Clarinha, como é carinhosamente chamada pelos amigos, conta que as notícias sobre a saúde precária do pai eram ocultadas por Marilka Lannes, segunda mulher de Azêdo, que segundo Clarinha monopolizava a vida dele. Apenas três anos depois, conta Clarinha, ela ficou sabendo que o pai tivera um grave enfarte:  

 "A partir disso, teve uma lesão no coração. Vivia sendo internado, melhorava  e voltava. Muitas vezes eu não tinha acesso aonde ele estava. Precisava ligar para um hospital, dar o nome, e assim descobrir. No dia 27 de setembro, aniversário dele, eu queria passar na ABI para levar um presente. Liguei para lá e ninguém atendia; liguei para a casa dele e também não. Liguei então para o celular da mulher dele, e aí soube que estava internado. Fui visitá-lo, com meu irmão, e tive um mau pressentimento”, conta Clarinha. 

A doença que deixou sequelas tão graves talvez tenha impedido que Azêdo estivesse à frente dos assuntos da ABI, levando-o a cometer um grave erro - deixar que a mulher, Marilka Lannes, imiscuindo-se indevidamente na instituição, orquestrasse os piores atos, que agora estão sendo contestados na Justiça.

Leia a reportagem completa no link abaixo:



2 de nov. de 2013

NAU DA INSENSATEZ

DOMINGOS MEIRELLES

O Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Imprensa, que se reuniu pela primeira  vez na última terça-feira de outubro, quatro dias após a morte de Maurício Azêdo, não se preocupou com o luto. Não prestou qualquer homenagem póstuma ao companheiro que ocupava, sub judice, a presidência da entidade, desde a última eleição em abril passado. Não se pediu sequer um minuto de silêncio em memória do seu falecimento. O que se viu naquela tarde de 29 de outubro foi um espetáculo degradante, vergonhoso, incompatível com as melhores tradições da ABI. Não foi uma reunião para lembrar a perda do presidente que escolhera a dedo cada um dos integrantes daquele Conselho.

Não se podia imaginar que, naquela sessão, os conselheiros por ele ungidos deixassem de promover algum tipo de manifestação pela morte de um companheiro que todos sabiam enfrentar graves problemas cardíacos desde 2009.  Conduzido por interesses inconfessáveis, o Conselho comportou-se de forma aviltante. Não se ouviu uma palavra que traduzisse pesar   ou tristeza. Era como se o presidente morto há quatro dias jamais tivesse existido. "Rei morto, rei posto", diz o velho ditado popular que foi seguido à risca, naquela sombria tarde de terça-feira. Azêdo jamais  também poderia supor que seria vítima de um dos seus maiores pecados. Nenhuma das carpideiras que escreveram textos lacrimosos no site da ABI,  onde lamentavam sua morte e exaltavam suas virtudes, lembrou-se de pranteá-lo durante a sessão. Uma lápide de silêncios foi depositada sobre a sua vida e o seu passado, por todos aqueles a quem retirara do limbo, oferecendo-lhes uma visibilidade que não mereciam.

Os critérios que sempre norteavam Azêdo na escolha dos integrantes do Conselho Deliberativo jamais repousavam em méritos pessoais ou de natureza profissional. O que exigia dos escolhidos, com raríssimas exceções, era lealdade, obediência e submissão. Não apenas por autoritarismo, traço que tanto o caracterizava, mas para que não interferissem no trabalho que fazia com afinco, meticulosamente, como escravo de uma personalidade centralizadora e perfeccionista, refratária a qualquer tipo de crítica.

Maurício Azêdo sempre preferiu um Conselho subalterno, dócil e omisso. Um rebanho que não tivesse competência para contestá-lo ou criar embaraços ao projeto pessoal do qual considerava-se o único artífice capaz de executá-lo com eficiência: construir uma ABI que superasse a de Barbosa Lima Sobrinho. Acreditava que sua gestão o eternizaria como o melhor presidente da história da instituição.

Na condução da ABI, Azêdo cometeu erros comuns à espécie humana, potencializados pela sua própria estatura de jornalista competente – redator irrepreensível, orador brilhante, um homem reconhecido pelo temperamento difícil, tanto quanto pelo senso ético, às vezes quase desumano com aqueles a quem não valorava. Seu gênio esquentado o fez tornar-se  muitas vezes impiedoso e extremamente injusto com inimigos reais ou imaginários que pareciam persegui-lo, como uma sombra, ao longo da vida.

A primeira reunião do Conselho da ABI sem o comando do seu mentor permitiu que aflorasse o pior dos erros que Maurício Azêdo poderia ter cometido na condução da instituição: a escolha de pessoas sem biografia e ossatura de caráter. Os eventos que marcaram a reunião do Conselho Deliberativo, naquela tarde de 29 de outubro, foram indignos e repulsivos. As ambições mais mesquinhas floresceram, de repente, de forma deplorável. As máscaras se desafivelaram e as ambições  de cada um começaram a se exibir sem disfarces, de corpo inteiro, revelando sua verdadeira face. Sem a presença do líder, que jamais permitiria aquela ópera bufa, ocorreram irregularidades, transgressões, agressões verbais, preocupantes manifestações de histeria, reinterpretações oportunistas das regras estatutárias,  além de violações dos mais comezinhos princípios da ética e do Direito.

A primeira reunião dos deserdados foi cenário de cenas estarrecedoras. O episódio mais abjeto e constrangedor, impensável numa instituição com  tradição democrática da ABI, foi a cassação ilegal do mandato do vice-presidente Tarcísio Holanda, comandado pelo presidente do Conselho, Peri Cotta. Espelhando-se num dos piores exemplos da ditadura militar, Peri impediu a posse de Tarcísio utilizando-se do mesmo artifício usado pelo Alto Comando do Exército ao impedir que o  vice Pedro Aleixo assumisse a Presidência da República com o afastamento por doença do marechal Arthur da Costa e Silva. Os detalhes da sórdida cassação de Aleixo foram, inclusive, reproduzidos com extraordinário talento por Zuenir Ventura no livro " 1968 - O ano que não terminou ".

Tarcísio Holanda, um dos profissionais mais respeitados da sua geração,  foi  humilhado por uma horda enlouquecida de golpistas, alinhados com Peri e o ex-oficial de Marinha Milton Temer que operava, em plenário, os apoiamentos à cassação, através de tenebrosos acordos de convés. Num gesto tresloucado queriam, inicialmente, que ele renunciasse. Como Tarcísio resistiu, foi apunhalado sem compaixão pelos seus próprios companheiros.
Ancorado num  inconsistente "parecer jurídico" encomendado ao escritório de advocacia Siqueira Castro, o mesmo que defende a chapa Prudente de Morais, Peri declarou vago o cargo de vice-presidente. Ao arrepio da lei, como  fez o Alto-Comando do Exército, em 1969, o presidente do Conselho determinou que fosse escolhido outro nome para a sucessão de Maurício Azêdo.

O vice-presidente Tarcísio Holanda, que veio de Brasília especialmente para assumir o cargo, acusou Peri e seus cambonos de capitanearem um "golpe de Estado", atitude inaceitável numa instituição como a ABI. Lembrou que sempre desfrutara da confiança pessoal de  Azêdo, de quem era amigo há mais de 50 anos, e a quem substituíra, inclusive, em várias oportunidades como presidente da Casa. Ninguém lhe deu ouvidos. Transtornado diante de tamanha demonstração de frieza e cinismo, desabafou em voz alta para que todos ouvissem: - A presença de vocês me enoja.

Como Tarcísio recusava-se a renunciar ao cargo para o qual fora eleito, em 2010, juntamente com a maioria dos presentes, Peri resolveu submeter ao plenário a proposta de transformar a reunião ordinária em reunião extraordinária, a fim de legitimar o "golpe de Estado".  Ao ser contestado por não cumprir a regra da convocação pública, estabelecida pelo Estatuto, para os casos de reuniões extraordinárias, Peri respondeu, com arrogância: “sou o presidente do Conselho e tenho poder até para extinguir a ABI”.

E assim, sem que houvesse uma convocação do corpo social, os membros do Conselho amancebados com Peri, Temer, Miranda Sá e Mário Augusto Jacobskind aprovaram a decisão. A intenção clara, ao entardecer daquela terça-feira, era tomar de assalto o controle da ABI. Com base no  gelatinoso parecer jurídico que autorizava não empossar o vice em caso de vacância, o presidente sub judice do Conselho Deliberativo lançou a candidatura  do Diretor Administrativo, Fichel David Chargel, igualmente sub judice, para ser votada naquele momento. E assim o golpe se concretizou. Chargel assumiu, de forma enviesada,  a presidência da Associação Brasileira de Imprensa até que a Justiça se manifeste sobre essa estultice.

Do currículo de Chargel sabe-se pouco, além de sua atuação na imprensa como diagramador e que teria trabalhado com Azêdo na Câmara e no Tribunal de Contas do Município. Foi também diretor do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro. Chargel orgulha-se de ter sido um dos fundadores da Cooperativa dos Profissionais de Imprensa do Rio de Janeiro, a finada COOPIM, que desapareceu sob seu comando, após desastrada administração. Os sócios da cooperativa até hoje desconhecem o destino do patrimônio da entidade dissolvida em 1986.

O novo presidente da Casa dos Jornalistas é, na verdade, apenas um balão de ensaio. Um  teste engendrado para utilizar a instituição como uma espécie de laboratório político. As hienas que rondam a agonizante ABI parecem ter projetos ainda mais ambiciosos. Quando a titular da 8ª Vara Cível marcar novas eleições, vão substituir Chargel por outro nome para disputar a presidência da Casa. Acreditam que a direção da entidade seja o caminho mais fácil para catapultar uma candidatura ao Senado, como denunciou uma das poucas vozes do Conselho contrária à partidarização  da ABI.

O espetáculo grotesco da reunião de 29 de outubro expõe com nitidez as digitais dessas personagens em alguns dos fatos que se encontram nas mãos da Justiça. E talvez expliquem as atitudes estranhas protagonizadas por Azêdo ao tentar manter-se na presidência da ABI pelo quarto mandato consecutivo, ao custo de sua própria biografia, impedindo de maneira fraudulenta a participação legítima de uma chapa adversária. Não era o estilo de Maurício Azêdo. As contradições demonstram que ele talvez já não tivesse condições físicas de comandar a instituição. São cada vez mais evidentes os indícios de que pudesse estar sendo manipulado. Apesar da saúde precária, era insuflado pelos seus pares a permanecer sempre na linha de frente, como um gladiador romano. A maioria dos seus protegidos, entretanto, não se expunha. Azêdo ficou praticamente só na tarefa de defender as irregularidades cometidas durante o processo eleitoral com a conivência de todos os integrantes do grupo que liderava. Os graves problemas enfrentados pela ABI e o abandono dos seus pares, que o deixaram com a  responsabilidade de sustentar sozinho o ônus de toda a campanha, acabariam minando suas forças,  além de revelar o tipo de gente que o adulava.

Os fatos falam por si. Na campanha que o elegeu pela primeira vez, em 2004,  a luta também foi difícil, mas não houve da parte dele o recurso a atitudes menores em momento algum. A luta foi limpa e honrada. A primeira diretoria eleita com ele, entretanto, sofreu uma baixa considerável em seus primeiros meses de mandato. Azêdo identificou atitudes inconciliáveis com o seu rigoroso senso ético em alguns dos seus membros que se viram obrigados a se afastar. Uma história que ainda há de ser contada. Estranhamente, esses mesmos personagens estão agora de volta em um Conselho contestado na Justiça.

Outra situação que aponta para a possível debilidade de Azêdo foi a publicação de um jornal de divulgação da campanha pelo seu quarto mandato,  onde o nome do patrono da chapa, no cabeçalho, estava escrito errado – Prudente de Morais, neto é a forma correta e ele fazia questão até mesmo da vírgula, e “neto” com letra minúscula. No jornal, Morais estava escrito com “e”. Esse erro ele jamais deixaria passar.

As ações vergonhosas para impedir que a chapa de oposição Vladimir Herzog disputasse a última eleição também são contraditórias e não combinam com o estilo de Maurício Azêdo, acima de tudo porque foram trapalhadas que ofendem até mesmo inteligências medianas, como a emissão de um cheque pessoal para quitar débitos de 17 integrantes da chapa da situação. O mesmo privilégio, regularizar as dívidas no balcão da Tesouraria, foi negado à oposição. Os membros da chapa Vladimir Herzog só poderiam pagar as mensalidades em atraso através de boleto bancário. Esses boletos, entretanto, jamais foram expedidos pela ABI. E mais: o cheque de Azêdo, anexado aos autos do processo, traz a relação nominal, de próprio punho, de quem estava com a mensalidade sendo por ele quitada, o que se constituiu em mais uma prova material,  entre as muitas ilicitudes cometidas pelo então presidente da Casa.

Na tentativa de regularizar a situação dos membros da própria chapa, outro engano que Azêdo, em condições normais, certamente jamais cometeria: confundiu-se com nomes de dois sócios irmãos e acabou quitando a mensalidade do jornalista Tim Lopes, morto em 2002. Maurício Azêdo não cometeria esse engano, porque tinha uma memória prodigiosa e não esqueceria o nome de Tim Lopes, assim como não erraria no sobrenome do patrono de sua chapa.

Azêdo talvez não imaginasse que o coração que se fortalecia nas disputas e batalhas fosse abandoná-lo em meio a uma situação tão difícil; menos ainda que deixaria como herança um Conselho que macula a sua memória. A ABI é uma nau que estancou no atoleiro da insensatez e está sendo invadida pelos ratos do oportunismo.


15 de set. de 2013

DE BARBOSA LIMA SOBRINHO PARA MAURÍCIO AZÊDO (2)

Do Céu para a Terra

De: barbosaLima.sobrinho@doceu.com.br

Caro Maurício,
Continuamos, aqui em cima, estarrecidos com o processo de decomposição da imagem da nossa querida ABI.  A cada dia que passa - no céu, o tempo tem outra dimensão -,  recebo notícias que me entristecem. Não é preciso acessar a enxurrada de e-mails que congestiona minha caixa postal para saber o que se passa aí embaixo.  Como estamos  nas alturas,  em permanente estado de sacralidade e  elevação, passamos a desfrutar  de alguns poderes especiais, entre eles a presciência. Somos igualmente capazes de enxergar, mesmo à distância, as ambições e vilezas que se acoitam nos desvãos da alma humana.
O modo de ser celeste é uma hierofania inesgotável.  Essa é uma das muitas vantagens de se viver literalmente nas nuvens, como  diz o poeta Mário Quintana, sempre saudoso do seu Alegrete,  que teve outros dois filhos ilustres: João Saldanha  e Oswaldo Aranha.
O clima entre nossos amigos anda muito pesado. Muita gente, aqui em cima, não gosta de você. Seus maiores desafetos estão justamente entre os velhos companheiros de luta do antigo PCB.  O Prestes e o  "Geraldão", por exemplo, não querem sequer ouvir falar no seu nome. Você cevou uma legião de inimigos ao longo da sua militância política. Alguns membros da velha guarda passam, inclusive, boa parte do tempo apedrejando  sua reputação como dirigente partidário.
Você tem péssimo conceito, aqui no céu, principalmente entre seus pares. Apesar da sua imagem não ser boa, entre nós,  ninguém acreditou quando o Raymundo Faoro contou que você tinha baixado um Ato Institucional impedindo que sócios com mensalidades em atraso entrassem na sede da ABI. Acreditaram que o Faoro  estivesse fazendo campanha para a Chapa Vladimir Herzog, liderada pelo Meirelles e o Carlos Chagas, que luta na Justiça pelo direito de participar das eleições da Casa.
Nossos amigos ficaram  perplexos quando o Faoro exibiu a  cópia do documento fixado na portaria do prédio. Qualquer associado, para ingressar na ABI,  deve apresentar o boleto bancário, comprovando que está em dia com a Casa. Quem não estiver com o documento na carteira é submetido a outro  grave constrangimento, na  frente de estranhos, como tem ocorrido nos últimos dias. Os funcionários pedem então que os sócios saíam da fila do elevador e aguardem, ao lado da portaria, o resultado da consulta telefônica  que são obrigados a fazer ao gabinete da presidência.  
O Guilherme, que foi namorado de sua filha mais velha, e trabalha há vários anos na Casa,  é quem diz se o associado  está ou não autorizado a entrar no prédio.  O computador que ele consulta pertence à Tesouraria  e não pode permanecer ilegalmente na sua sala.
Nunca se viu, em toda a história da entidade, tamanha demonstração de prepotência e insensatez. Eu mesmo, que fui presidente da Casa, pela primeira vez, em 1932, não recordo que se tenha adotado procedimento semelhante, nos últimos 70 anos.
O Gustavo de Lacerda, que fundou a ABI em 1908,  está cada vez mais deprimido com toda essa situação. Ele morreu cedo, não chegou a cumprir um ano de mandato, mas se sente culpado por ter criado uma instituição que se isolou do corpo social com uma cerca de arame farpado. O Gustavo era um visionário. Acreditava que ABI seria um campo neutro, capaz de abrigar todos os profissionais de imprensa, independente da sua função e credo político. Nunca lhe passou pela cabeça que, um dia, ela se transformasse num circo de horrores.
O José Mesquita, assíduo freqüentador do 11º andar, que  se juntou a  nós, há poucos dias,  disse que a decisão de afastar os sócios da Casa faz parte de um plano diabólico. Com a posse do computador você poderá manipular qualquer eleição. O Mesquitinha contou que, dias antes de partir, quando ainda estava internado no hospital, tomou conhecimento de que a Juíza Maria da Glória Bandeira de Mello, da 8ª Vara Cívil, marcou a audiência final para 21 de outubro. Nesse dia ela dará a sentença no processo  que o Meirelles e o Paulo Jerônimo movem contra você, por ter fraudado o processo eleitoral. No texto da tutela antecipada, concedida em 22 de julho, ela já firmou seu juízo de convencimento. Observou que as eleições da ABI foram maculadas por um conjunto de irregularidades, "com o nítido propósito de afastar a Chapa Vladimir Herzog da disputa", o que tanto envergonhou a todos nós. A juíza chamou a atenção para "a inadmissível desigualdade de tratamento", entre as duas chapas, com o objetivo de impedir que a oposição participasse do pleito. Ela ainda deu um puxão de orelhas em você. Determinou que a próxima eleição seja realizada "com escorreita observância do Regulamento Eleitoral e dos princípios da isonomia associativa, transparência e publicidade que devem nortear as disputas eleitorais que é o que se espera, em especial, de uma instituição do gabarito e respeitabilidade da ré".
O Mesquitinha contou que, nos últimos anos,  era obrigado a tirar dinheiro, do próprio bolso, para conservar o feltro das mesas de sinuca do 11º andar. A justificativa que você usou para cortar a verba de manutenção foi considerada  infamante. Alegou que o "onze" era só freqüentado por "desocupados", como sempre se referiu aos sócios aposentados, que se reuniam naquele espaço de convivência social. Com o cafezinho cada vez mais ralo, frio e amargo,  a turma debandou.
A visão que as mesas de sinuca hoje oferecem, estendidas,  lado a lado, cobertas com plástico preto, é assustadora. Não existe mais aquele ambiente alegre e barulhento, onde discutia-se futebol e política, em voz alta,  com a mesma paixão. O silêncio é tão grande no "onze" que se pode ouvir o barulho de uma agulha cair no chão.
As pessoas estão cada vez mais revoltadas com o abandono a que foi relegada a nossa ABI.  Aqui em cima, os mais velhos, que sempre foram os mais tolerantes, estão perdendo a paciência com você. O edifício-sede e o futuro da  entidade parecem cada vez mais sombrios diante das sandices cometidas pela sua administração.
O Ulysses Guimarães, que toma sempre um cafezinho na minha sala, contou que se assustou  com o aspecto cavernoso da portaria do prédio. Ele caminhava outro dia  pela Araújo Porto Alegre,  para assistir de perto as manifestações na Cinelândia, quando viu só duas lâmpadas acesas no hall principal.  As oito restantes estão queimadas há mais de três meses. Aquele mundo de sombras foi para ele simbólico. Sempre com aquelas frases de efeito,  que foram suas digitais,  na vida política, alfinetou: "A ABI deixou de ser um farol para se perder nas trevas da intolerância". Como bom observador, completou, irônico: "Também não tem mais bandeira". No alto do prédio,  só viu o pavilhão nacional;  o outro mastro,  onde ficava  a bandeira da entidade, estava desnudo. ''Lembrava o tronco de uma árvore sem vida", arrematou, consternado.
O Ulysses era só tristeza naquele dia. Não conseguia entender a situação de descaso a que foi arrastada uma instituição, a qual se referia sempre como  "a mais longeva guardiã das liberdades". Quando soube que você estava impedindo os sócios de entrarem na Casa, levantou-se e saiu sem dizer uma palavra. Estava com a cabeça enxameada de maus augúrios.
Não quero tomar seu tempo nem desperdiçar o meu. A principal razão de enviar este novo e-mail não são as críticas que continua endereçando  à minha pessoa, chamando-me de "velho omisso". O motivo, desta vez,  é repelir as intrigas com as quais tem procurado também atingir minha administração. Não vou admitir os injuriosos ataques que me tem assacado, pelos corredores, para denegrir e apequenar minha imagem como presidente da ABI. Nos três diferentes momentos em que estive à frente dos destinos da Casa jamais fui tão insultado.
Gostaria que parasse de me cristianizar pela montanha de desatinos  que tem cometido ao longo dos nove anos em que dirige a entidade como um mandarim.  Não me transforme em espelho. Na minha época, a Diretoria reunia-se uma vez por semana.  As decisões eram sempre tomadas, de comum acordo, com os demais diretores. O comando da Casa funcionava como um colegiado.
Nos seus três mandatos, você deveria ter realizado 144 reuniões de Diretoria, mas reuniu-se apenas 13 vezes com seus pares. Você não ouve ninguém. Decide tudo sozinho como se cumprisse um mandato divino.  O resultado aí está: uma instituição centenária, com um passado glorioso, sitiada por dívidas colossais. O  edifício-sede, que sempre foi motivo de orgulho para todos nós, está com vários pavimentos penhorados como garantia de débitos que dificilmente serão pagos. O descalabro financeiro colocou em grave risco de esfacelamento  um patrimônio  que não pertence apenas aos jornalistas, mas a toda a sociedade brasileira.
A ABI não pode continuar sendo administrada como uma propriedade privada. Na sua gestão, o aluguel dos inquilinos  e a locação das antenas de telefonia celular são tratados como um negócio particular. Você estabelece os valores, pessoalmente, sem consultar a Diretoria. Os contratos são discutidos e assinados apenas por você, em flagrante violação do Estatuto. O inciso IV, do Artigo 53, determina que o Diretor Econômico-Financeiro  deve "assinar, com o Presidente, os contratos de locação e de cessão de uso de dependências da Associação". Na sua gestão, o Estatuto jamais foi respeitado. Tudo é decido, sigilosamente, em áreas de sombra. Todos os contratos assinados apenas por você, ao longo de  três mandatos, são juridicamente ilegais.
Você tem sido um péssimo gestor. O melhor exemplo foi a desastrada negociação conduzida em segredo com a rede de livrarias A Travessa. A empresa tinha interesse em alugar o espaço ocupado pelo restaurante Rick's, na esquina de México com Araújo Porto Alegre,  para a instalação de uma megalivraria. O empreendimento, inclusive, daria excelente visibilidade à própria ABI, ao atrair público de bom nível intelectual, como são os clientes da referida livraria. A empresa pretendia, inclusive, promover intensa programação cultural no auditório da Casa, além de usar o espaço nobre do 9º andar para  lançamento de livros.
Como de hábito, as tratativas foram realizadas embaixo dos panos. Quando o negócio azedou, você convocou o Meirelles, na época responsável  pela área financeira, para tentar reativar o contato bruscamente interrompido.  O Meirelles estranhou que não o tivessem chamado para participar da negociação. Você sabia que ele conhecia o dono e o gerente-geral da rede de livrarias, onde participou de vários lançamentos dos livros que escreveu.

Após o encontro,  realizado a seu pedido, com a direção da empresa, em Ipanema, o Meirelles  ficou chocado com o que ouviu. Contaram que desde o primeiro momento,  na presença da sua mulher, que acreditaram ser diretora da ABI,  perceberam  sua  arrogância.  A sensação era de que lhes prestava  um favor. Antes que formulassem qualquer proposta, você impôs suas condições: R$ 650 mil à vista, entre luvas e aluguéis adiantados. Queria  ainda o pagamento de parcelas intermediárias, a título de bonificação, caso o empreendimento se revelasse bem-sucedido. Não se dispôs  a discutir  prazos ou valores. Era pegar ou largar. Resumo da ópera:  desistiram da loja da Rua México, e abriram uma nova livraria na Sete de Setembro. O episódio dispensa comentários.

No primeiro e-mail que lhe enviei,  falei sobre as críticas que você me fez, chamando-me publicamente de  "velho omisso". Seu comportamento desrespeitoso provocou  uma avalanche de protestos  aqui no céu. As manifestações de carinho e desagravo que recebi foram comoventes.
O primeiro a me prestar solidariedade foi o historiador Hélio Silva que durante anos presidiu o Conselho da Casa. Ele conhece bem seu gênio esquentado. O Hélio jamais esqueceu os impropérios de que foi vítima quando você se deixava conduzir pela incontinência verbal. Espumava pelos cantos da boca, dizia coisas absurdas, a expressão sempre transfigurada, como se tivesse incorporado uma entidade de pouca luz.
Como  dizia,  o Hélio Silva foi o primeiro a aparecer no meu gabinete. Estava de sandálias, vestido com aquele hábito de monge medieval, depois que se despiu das veleidades humanas. Chegou bem cedinho, logo depois  da missa das sete, acompanhada de órgão e canto gregoriano. Talvez você não saiba, mas ele declarou voto de pobreza, no início dos anos 90, e decidiu levar uma vida de clausura monástica. Renunciou aos direitos autorais de sua vasta obra historiográfica, abdicou dos  poucos bens materiais que amealhou como médico e historiador, e recolheu-se ao Mosteiro de São Bento. Apesar de portar-se ao longo da  vida com a elegância intelectual de um grão-vizir florentino, sempre foi um homem simples, despojado das ambições que se apossam dos espíritos mais fracos.
O noviciado do Hélio, na política, foi como militante anarquista, nos anos 20, mas  no fim da vida converteu-se num papa-hóstia. Leva  atualmente uma vida de piedade e oração. Nunca lhe passou pela cabeça, quando vivia aí embaixo, trocar o acanhado apartamento onde cultivava sua reconhecida paixão pelos livros, pelo prazer mundano dos luxos e veludos de um duplex de 1400 metros quadrados, em uma das áreas mais nobres da Barra da Tijuca. Eu também sempre fui muito feliz, com a Maria José, os filhos e meus livros, no casarão antigo em que morei, na Rua Assunção, em Botafogo. Você achou mais aprazível viver perto do mar. Afinal, a vida é feita de escolhas.
As pessoas que foram ao meu gabinete expressar repulsa pela forma desairosa como você  se referiu à minha pessoa estavam profundamente indignadas.  Guardei apenas alguns nomes, tantas foram as manifestações de  solidariedade e afeto que recebi: Joel Silveira,  Apolônio de Carvalho, Evaristo de Moraes, Roberto Marinho, Carlos Drummond de Andrade, Amilcar de Castro, Carlos Marighela,  San Tiago Dantas, Manuel Bandeira, Nelson Hungria, Villa-Lobos, Evandro Lins e Silva, Márcio Moreira Alves, Raul Riff, Hermes Lima,  Ênio Silveira,  Mário de Andrade, Prado Kelly, Adolpho Bloch, Robert Civita, Vinicius de Moraes, Júlio de Mesquita. O cantor Francisco Alves veio com o Nelson Gonçalves e o Carlos Gardel. O último da fila era o Prudente de Morais, Neto, o nosso querido Prudentinho. Estava de óculos escuros como na época em que tinha os olhos enevoados por uma maldita catarata.  Como aqui ninguém precisa desses apetrechos, porque recuperamos a plenitude da visão e passamos a enxergar muito bem, acredito que se tenha refugiado atrás das lentes escuras para não ser reconhecido. Na semana passada, eu o vi conversando com o Pompeu de Souza. Ele mostrava o jornalzinho de campanha da chapa da situação, onde o nome dele aparecia, na primeira página, redigido de forma incorreta. Escreveram Prudente de Moraes, ao invés de Morais. Era visível  sua indignação por ter sido transformado em patrono de uma chapa que não escreve direito o seu nome.
O clima de tristeza em  que vivemos todos, aqui em cima, diante do que está acontecendo com a ABI é cada vez maior.  O único que vive feliz como pinto no lixo é o Arthur Cantalice. Ele continua escrevendo aquele jornalzinho mural, onde atacava sua administração, que você mandava retirar dos andares. O Cantalice usa a mesma velha máquina Olivetti, modelo Lexington 80, com os tipos desalinhados, que a Sala de Imprensa mantém  à disposição dos associados.
Ele aproveitou a romaria de personalidades ao meu gabinete para lançar uma edição extra do jornalzinho. Na primeira página, denunciou, em letras garrafais, a mistificação da reforma dos banheiros do sétimo andar, conduzidas pela Marilka.  Na manchete, em negrito, corpo 72, caixa alta, se lê: UM NEGÓCIO  DA CHINA.
A matéria diz que a reforma foi uma obra eleitoreira. Não foram trocados os encanamentos nem as válvulas dos banheiros com quase meio século de uso. As paredes foram apenas revestidas com porcelanato  chinês colado sobre a camada de azulejos antigos,  da época da construção do prédio. Não levou-se em conta a qualidade nem a durabilidade do produto, apenas seu baixo custo. O  material escolhido pela primeira-dama foi o mais barato da praça. As placas de 40X40 cm foram compradas como  xepa de fim de feira. O porcelanato chinês é tão ordinário que o metro quadrado custa o preço de um lanche do MacDonald's.
O jornalzinho do Cantalice faz muito sucesso aqui em cima. Ele voltou a falar sobre o puxadinho que está sendo construído ilegalmente no terraço, onde havia o jardim do Burle Max. O Gastão Pereira da Silva, com aquela cabeleira em permanente alvoroço, contou que o viu outro dia sobrevoando o prédio da ABI. Estava na garupa de uma versão mais sofisticada do 14-BIS, pilotado pelo próprio Santos Dumont, que usava um rayban de mau gosto, comprado num camelô do Largo da Carioca. Ele tirava fotos da academia de ginástica que está sendo erguida no terraço
(foto: Arthur Cantalice)
Os irmãos Maurício e Marcelo Roberto, responsáveis pelo projeto do prédio, vão  ingressar com uma queixa-crime contra sua administração na Procuradoria da República, no Rio de Janeiro. O imóvel é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Cultural e protegido por lei federal. Eles explicaram que qualquer modificação no projeto original gera graves sanções. Além do embargo e demolição da obra, o infrator está ainda sujeito à multa de 30% a 100% do valor venal do bem tombado, além de outras sanções previstas pela legislação em vigor.
Na semana passada, quem apareceu no meu gabinete foi o Sobral Pinto. Entrou na minha sala possesso, agitando aquele velho guarda-chuva do qual jamais consegue se livrar, apesar de nunca chover aqui em cima. Ele veste-se  ainda todo de preto, como no tempo em que tinha escritório do outro lado da Araújo Porto Alegre, em frente à sede da ABI. Como você deve saber, o Sobral foi  advogado do Luís Carlos Prestes quando ele esteve preso, durante o Estado Novo.
O Prestes, que é muito amigo do Sobral, contou que você não agiu como magistrado ao julgar o pedido de anistia do estivador Geraldo Rodrigues dos Santos, mais conhecido como "Geraldão". Ele era um dos quadros mais importantes do PCB no Rio de Janeiro. O Prestes disse que ele andava sempre com uma cápsula de cianureto no bolso. Caso fosse detido, preferia morrer a entregar qualquer companheiro para a repressão. O "Geraldão" teve o pedido de anistia indeferido por você, que era o relator do processo. O Sobral afirmou que seu parecer foi odiento. Alegou que o suplicante  nunca fora preso e que  jamais lhe tocaram um dedo.
O Prestes lembrou que se os militares o apanhassem, ele seria assassinado, como ocorreu com outros quadros do PCB. Como o Sobral teve acesso aos  autos do processo, observou que você usou pesos e medidas diferentes, ao julgar outros casos. Foi impiedoso com o "Geraldão", de quem se tornara desafeto, e extremamente generoso com os chamados amigos do peito. Mesmo sem terem sido presos,  receberam polpudas indenizações.
"Geraldão" tinha 83 anos e vivia praticamente na miséria. Há vários anos lutava contra um câncer de estômago. Morreu meses depois do pedido  ser negado.
Não me atrevo a prever como será sua convivência, aqui em cima, com a velha guarda do Partidão. Vamos torcer para que  a paz celestial não seja alterada. E que todos os dias, "sejam  sempre de domingo", como diz um dos versos do Mário Quintana.
Acho melhor parar por aqui. Gostaria de comentar a carta pessoal que o "Geraldão" enviou para você, explicando porque nunca foi preso. Fica para depois.
Abraços.
Barbosa Lima Sobrinho
PS: Não acreditei que você tenha descumprido uma decisão judicial, entregando à oposição uma lista com a relação  de três mil associados onde não constavam endereço, e-mail ou sequer telefone.

11 de set. de 2013

Por Adilson Gonçalves

Gustavo de Lacerda deve estar chorando em seu modesto túmulo. Digo isto porque ao morrer, ele passava por sérias dificuldades financeiras, não tendo completado sequer o primeiro ano de seu mandato. Pois é, passados 104 anos, Maurício Azêdo, advogado, vereador, conselheiro, e, pasmem, jornalista aposentado, com um polpudo rendimento mensal, que lhe permite morar em um triplex na Barra da Tijuca, no Jardim Oceânico, através de uma reunião do Conselho Deliberativo amestrado e subserviente, decide barrar jornalistas inadimplentes. São maus companheiros, maus colegas, que a categoria deve saber quem são, e oportunamente serão conhecidos. É uma medida desumana e cruel, já que nem todos vão somente à ABI beber café ralo, ler jornais, jogar sinuca ou cortar o cabelo. Muitos dos sócios, desempregados e subempregados, recorrem aos serviços médicos - ofmatologista, dermatologista, ortopedista, dentista, cardiologista, entre outros, com consulta gratuita, mediante acordo pela cessão do espaço. Enquanto isto, Maurício Azêdo a cada internação, o que se tornou frequente, vai para os Pasteurs, Clínicas São Vicente e outras casas de saúde, destinadas à elite. Como já disse, há pontos e contra pontos: Deus e o diabo, Martin Lutther King e Ku Klus Klan, Gustavo de Lacerda e MAURÍCIO AZÊDO.

10 de set. de 2013

DEPOIMENTO: MAIS UM ESCÂNDALO NA ABI


DECADENTE, ABI É UM BARCO À DERIVA

Por Wilson de Carvalho


Neste momento estou revisando um livro de quase 200 páginas para entregar ainda amanhã, na editora Taba Cultural. Por isso, contarei em mais detalhes só mais tarde e na própria Justiça, amanhã, sobre o constrangimento que passei, juntamente com outros colegas associados como seu Édson, de 80 anos, em cumprimento a mais uma decisão arbitrária do presidente Maurício Azêdo, desta vez no sentido de os associados só terem acesso ao prédio da ABI depois de provar que estão em dia com o pagamento das mensalidades. E isto sem nenhum aviso prévio. Dizem que a decisão teria partido de D. Marilka, a verdadeira administradora da entidade, devido ao estado de saúde do esposo e presidente. 

Um dos poucos frequentadores da ABI, que a cada dia se esvazia por praticamente nada oferecer nos seus 13 andares e também pela omissão nas lutas tradicionais e na representatividade na sociedade, desde que o atual presidente assumiu há quase dez anos e se utiliza de todos os artifícios para não haver uma nova eleição, conseguida na Justiça, pela oposição, seu Édson quis jogar fora a carteira de remido, depois de explicar ao porteiro Elenildo, sempre educado e também constrangido, que não precisava pagar mais, "pois o estatuto me dá esse direito". Outro colega, também idoso, e cujo nome não me recordo, após esperar a consulta sempre demorada, pois o porteiro tem que se comunicar por telefone, com o funcionário Robson, que, por sua vez, tem de se dirigir à sala do presidente, para onde foram deslocados os computadores, ameaçou ir à delegacia, caso lhe fosse pedido, de novo, o recibo de pagamento. Em outro momento, o conselheiro José Pereira da Silva, o Pereirinha, irritado ao ser chamado por Elenildo para ler o aviso assinado pela Diretoria (...), com rubrica do presidente, saiu em disparada para pegar o elevador e "falar com Azêdo sobre esse absurdo". E aí eu me senti duplamente constrangido, pois, ao contrário do Pereirinha, se quisesse subir, "no peito", teria de ser acompanhado pelo funcionário Lúcio. E notem que tenho armário no 11o. andar e até precisava pegar material de trabalho. Preferi não criar tumulto e apenas chamar a PM, que alegou não poder interferir no caso em questão.

O constrangimento de todos nós era maior porque chamava a atenção de pessoas estranhas à ABI, enquanto aguardavam nas filas dos elevadores para se dirigir aos andares alugados por empresas, ao barbeiro no 11o. andar, agora proibido aos sócios em atraso, ou ainda ao sexto andar, para consultas aos poucos médicos que ainda restam no ambulatório da entidade, por decisão do presidente, que, dizem, pretende acabar com o atendimento médico.

O mais estranho é que o prédio da ABI é também comercial e, em caso de qualquer tipo de exigência, que o fizesse a todos os frequentadores e com funcionários especializados. No caso da ABI, mesmo sem essa providência, teria de avisar previamente aos associados ou fazer a comunicação dentro do próprio prédio, sem constrangimento, reservada e pessoalmente.

Para minha maior surpresa, ao comprovar que estava atrasado três meses no pagamento de mensalidades e não os seis, que, de acordo com o estatuto, suspende, aí sim, a atividade social até a regularização, o presidente, acreditem, mandou o funcionário Robson dizer que "eu e o Raul (sobrinho dele, também na oposição) não poderiam entrar".

Desde a sexta-feira, me sinto indignado, um verdadeiro trapo, não só pela minha correta e, desculpem o cabotinismo, destacada atuação nos 40 anos de profissão, com passagem em quase todos os grandes jornais, prêmios de reportagens, cinco Copas do Mundo. E, vale ressaltar, com o testemunho do próprio presidente, a quem auxiliei como conselheiro e primeiro secretário da Comissão de Liberdade de Expressão e Direitos Humanos, em dois de seus mandatos, até cansar, a exemplo de outros companheiros, de suas arbitrariedades e postura ditatorial, não deixando ninguém trabalhar e ainda passar a administração à sua esposa.

Além de tudo isso, nenhuma providência eu vinha tomando contra outro de seus atos abusivos, mesmo me prejudicando no controle maior das contas a pagar, ou seja, de reter toda a correspondência dos próprios associados, por tempo indeterminado, principalmente durante as suas viagens a tratamento médico ou outros motivos particulares, ou ainda, simples falta de tempo. O presidente tem que saber o que você está recebendo em termos de correspondência. Uma delas me chegou atrasada e, o que é pior, violada, com a justificativa "aberta por engano". Com a sua letra.

Exatamente em nome da ABI, eu e alguns dos próprios diretores nos tornamos oposição para reerguer a entidade, contando para isso com a força dos próprios jovens que já dominam a profissão de jornalista, mas ausentes da entidade exatamente por praticamente nada ser oferecido. A ABI envelheceu sob todos os pontos de vista.

Lamentavelmente, tamanha a indignação, fui obrigado a relatar alguns fatos da decadência da ABI, que ainda não são de conhecimento de quem não a frequenta, mas, vale ressaltar, sem nada que arranhe a honestidade do presidente. Muito ao contrário, aliás.

Se para justificar a proibição, o presidente quiser alegar o uso palavrões na frequência ao 11o. andar, não procede - até porque, Raul, que também está proibido de entrar na ABI, mal comparece à entidade, a exemplo da maioria absoluta dos associados. Durante um jogo do Brasil, em que eu e mais seis associados (número em média de frequência) assistíamos, vale dizer, através de uma TV antiga e deficiente, soltei um "porra". Diante da interferência do funcionário Antônio, responsável pelo 11o., como se fosse dono do local, disse-lhe que não tinha autoridade para se dirigir a um associado da forma que fez, gritando "olha o palavrão!". Mais grave ainda, em horário de almoço, cochilando numa das poltronas e com a telefonista Marlene em seu lugar.

Não é de minha formação o uso sequer de termos chulos, quanto mais palavrões, embora, às vezes, escape. Eu sequer xinguei o presidente ou o acusei de racista e ditador, conforme fizeram alguns associados, aos palavrões, no mesmo 11o. andar. Sem punição alguma. Um deles, de mais de 80 anos de idade, indignado por ter sido afastado da presidência do Conselho Fiscal em favor de um dos amigos do presidente, contrariando, mais uma vez, o próprio estatuto da ABI - estatuto que inexiste para o presidente e os poucos conselheiros que comparecem às reuniões, 15, em média, dos quase 100, e que apenas repetem sim a todas as arbitrariedades. Eu mesmo fui um deles. Até esgotar a paciência e passar para a oposição. Talvez por isso esteja proibido de frequentar a entidade, onde ia diariamente em horários alternados, sabedor, portanto, de todos os acontecimentos.

Wilson de Carvalho é jornalista.