30 de abr. de 2013

Tribuna da Imprensa: "Quarta eleição de Azêdo na ABI foi um espetáculo deprimente"

      Azêdo acabou sendo vítima do próprio veneno. O resultado da eleição sub judice promovida pela ABI, na noite de 26 de abril, foi melancólico: apenas 6,2% dos três mil associados da mais longeva guardiã das liberdades apareceram para votar. A chapa Prudente de Morais, organizada pelo presidente Maurício Azêdo, concorreu sozinha após impedir a participação da oposição. Através de manobras espúrias, inaceitáveis numa entidade que sempre defendeu o direito de expressão e a livre circulação das idéias, Azêdo terminou provando do fel que destilou contra seus adversários: recebeu minguados 188 votos dos 201 jornalistas que participaram da eleição, na sede da entidade, no Centro do Rio. Treze sócios anularam seus votos.

      Os números não mentem: dos 188 que votaram no presidente 45 fazem parte da própria chapa, o que leva o contingente de eleitores avulsos a cair para 143, o que corresponde a 4,8 % dos três mil associados da entidade. Votação pífia para quem tenta mesclar sua imagem com a da instituição que comanda há nove anos de forma desastrosa, onde a principal prioridade sempre foi o culto à personalidade. O resultado da eleição de sexta-feira deu a exata dimensão do papel e da importância que ele representa para a comunidade jornalística do País.

      Azêdo não é a ABI. Como a ABI não é o Azêdo. Apesar do seu esforço doentio em apagar a memória de antigos dirigentes como Danton Jobim, Fernando Segismundo e tantos outros, a imagem de Barbosa Lima Sobrinho o assombra e lhe tira o sono. A expressão política que Barbosa Lima deu à instituição, nas duas vezes em que teve a honra de comandá-la, sem ambições pessoais, incomoda a megalomania cultivada pelo atual dirigente da Casa. Barbosa Lima Sobrinho foi o maior presidente da história ABI, apesar de Azêdo considerá-lo ” um velho omisso “, como a ele sempre se refere, de forma desrespeitosa, na tentativa de apequenar um dos mais ilustres brasileiros do século XX.

      As eleições de sexta-feira foram marcadas por episódios deploráveis. Marilka Lanes, mulher de Azêdo, que é de fato quem manda na Casa - manda mais que o marido e os diretores da ABI, apesar de não ser jornalista - contratou dois policiais de folga para garantir a segurança da votação. Seu objetivo, na verdade, era proteger o assédio moral dos acólitos do presidente da entidade. Marilka montou uma tropa de choque para recepcionar os eleitores e convencê-los a votar no marido. Assim que apareciam no nono andar da entidade, os sócios eram cercados pelos cambonos de Azêdo que lançavam toda sorte de impropérios sobre a honra dos candidatos da oposição, a quem acusavam de participar de uma conspiração da grande imprensa contra a ABI.

      Como se pode assacar tamanha aleivosia contra profissionais com o passado de Alberto Dines, Domingos Meirelles, Carlos Chagas, Ziraldo, Zuenir Ventura, Flávio Tavares, Joseti Marques, Ana Maria Costábile e Paulo Jerônimo, entre outros jornalistas de reputação ilibada como Juca Kfouri, Carlos Marchi, Ricardo Kostcho e Audálio Dantas ?
      Nunca na história da entidade houve um pleito tão sórdido e pervertido. O que leva os atuais inquilinos da ABI a se agarrarem ao poder como náufragos à beira de um naufrágio, mesmo depois de cometerem tantos desatinos no comando da Casa ? O que os impede de abandonar o barco quando a água invadiu os porões, a casa de máquinas e se espraia pelo convés ? O que os move a recorrem a expedientes nefastos para continuarem a bordo de uma embarcação sem rumo, que navega a baixo calado, e que pode naufragar a qualquer momento ?
      As eleições da ABI sempre transcorreram num clima civilizado, sem ódios e ressentimentos, com os membros das chapas oponentes muitas vezes conversando democraticamente, entre si, enquanto transcorria a votação. Na sexta-feira, os sócios foram surpreendidos com uma avalanche de insultos contra os candidatos da chapa Vladimir Herzog que se recusaram a comparecer ao local de votação por considerarem a eleição ilegítima.
      Ao concorrer à presidência da ABI pela quarta vez consecutiva, após alterar o estatuto para se reeleger ad eternum, Azêdo terá que aguardar, entretanto, a decisão final da juíza Maria da Glória Bandeira de Melo, da 8ª Vara Cível, que colocou a eleição sub judice. A Justiça examina as denúncias dos integrantes da chapa Vladimir Herzog que acusam o presidente de violar o regulamento eleitoral e patrocinar uma série de casuísmos antidemocráticos para bloquear a participação da oposição. Entre as graves acusações que fazem parte do processo está a compra de votos, comportamento comum entre coronéis sertanejos, mas inaceitável no presidente uma instituição que sempre defendeu a liberdade de expressão e os direitos do cidadão.
      Na sexta-feira, Azêdo voltou a mentir aos sócios que foram votar sem nenhum constrangimento como fizera semanas atrás ao ser ouvido pelo O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão diante da grave crise financeira e de gestão que ameaça o futuro da ABI. No jornal de campanha mentiu também sem nenhum pudor. A mentira foi por ele escolhida como pasto preferido. Azêdo mente uma, duas, três vezes. Mente sempre que for necessário para defender seu projeto pessoal de se eternizar no poder.
      Joseph Goebels, ministro da Propaganda de Hitler, dizia que uma mentira repetida mil vezes, tornava-se uma verdade. Goebels morreu no bunker de Berlim, em maio de 1945, depois de envenenar seis filhos pequenos com cianureto. O propagandaminister do nazismo suicidou-se, logo depois, ao lado da mulher, mas seus ensinamentos, entretanto, continuam vivos até hoje, multiplicando-se pelo mundo à serviço de interesses escusos que merecem o repúdio dos homens de bem.

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