AUDÁLIO DANTAS
Não faz
muito tempo, quando se falava em entidades representativas da
sociedade civil, a sigla ABI aparecia sempre entre as primeiras. Era
a primeira a se pronunciar sobre a violência contra jornalistas e em
defesa da liberdade de expressão para todos os cidadãos. Sempre
esteve à frente das lutas em defesa dos interesses nacionais, como
na campanha do petróleo, nos anos 1950, e na luta de resistência à
ditadura militar.
A voz da
ABI foi a voz do povo brasileiro nas campanhas pelas eleições
diretas, pela anistia e na denúncia dos atentados terroristas
promovidos pelo regime militar e, por isso, os terroristas lançaram
bombas contra sua sede, causando grande destruição.
Quando Vladimir Herzog
foi morto sob tortura numa dependência do II Exército, em São
Paulo, foi da ABI a primeira manifestação de solidariedade ao
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, de onde partiu a denúncia
do assassinato.
A presidência da ABI
foi exercida por homens do porte de Barbosa Lima Sobrinho e Prudente
de Morais, neto.
Mas hoje
a ABI não passa de um arremedo do que foi em seus 105 anos de
história. Tanto que usa o nome de Prudente de Morais, neto para
batizar uma chapa que, sem oposição, promoveu um arremedo de
eleição, para garantir o quarto mandato consecutivo do atual
presidente.
O que se fez a guisa de
renovação de mandato não passou de uma fraude. Como outras, em
anos anteriores, graças a mudanças estatutárias feitas com mão de
gato.
Para
garantir-se no poder, o atual presidente fez de tudo para impedir a
participação da chapa de oposição, que leva o nome de Vladimir
Herzog. Alegou inadimplência de integrantes da chapa, ao mesmo
tempo em que tomou medidas para impedir que eles saldassem seus
débitos em tempo hábil. Mas, agindo como dono da ABI, tratou de
pagar, do próprio bolso, as mensalidades em atraso de mais de uma
dezena de integrantes de sua chapa. Na pressa, denunciou a própria
esperteza: no lugar do nome do candidato Argemiro Antonio Lopes do
Nascimento escreveu atrás do cheque com que pagou as dívidas, o
nome de seu irmão, o saudoso Tim Lopes.
Quer dizer, o nome de
um jornalista morto em circunstâncias trágicas terminou na lista
dos inadimplentes da chapa “vencedora”.
Cabe, então, uma
simples pergunta: e o irmão do morto, que foi “eleito” sem ter
saldado as mensalidades em atraso, como fica?
A lista de espertezas
postas em prática durante o processo “eleitoral” é enorme. Mas
uma delas resume tudo: por decisão judicial, a “eleição” foi
realizada, mas só valerá se o atual presidente provar que não
cometeu as irregularidades apontadas pela chapa de oposição, tanto
em relação ao processo “eleitoral” quanto na administração da
ABI.
É revelador o fato de
que o candidato da chapa “vencedora” não tenha informado sobre a
decisão judicial aos associados que, em boa fé, foram votar no dia
26.
Leia também:
"A cronologia da crise"
"A AIP apóia a chapa Vladimir Herzog"
"O que há por trás de uma luta esvaziada de interesses coletivos"
"A decadência da ABI"
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