UM TEXTO DE OPERETA
Azêdo inspirou-se no pintor italiano Caravaggio, um mestre na arte do claro/escuro, ao produzir o Relatório de Atividades da Diretoria da ABI, referente ao exercício social 2012-2013. Através de uma técnica extremamente criativa, onde a escuridão quase sempre predominava, Caravaggio banhava seus personagens com exuberantes feixes de luz. Usava o fundo escuro e raso da tela para acentuar a transfiguração e a angústia das figuras bíblicas que pintava em primeiro plano. Como Azêdo não é Caravaggio, atrapalhou-se com a palheta, a mistura das tintas e os pincéis. Ao redigir o Relatório da Diretoria, onde pretendia maquiar, com rápidas pinceladas, a palidez da sua gestão na ABI, inverteu as cores e acabou chamando ainda mais atenção para o que pretendia ocultar.
Os primeiros indícios de que se tratava de uma falsificação grosseira afloraram no dia 16 de abril. Na reunião do Conselho Deliberativo, convocado para apreciar o trabalho da Diretoria e se manifestar sobre o parecer do Conselho Fiscal, Azêdo não permitiu que o documento fosse distribuído entre os conselheiros presentes, como é de praxe, para que fosse analisado pelo plenário, antes da sua exposição oral.
Uma das tradições da ABI sempre foi a transparência. As antigas gestões sempre imprimiam esses documentos no jornal da Casa e os enviavam ao corpo social, antes mesmo de serem examinados pelo Conselho Deliberativo e pela Assembléia-Geral. No ano eleitoral de 2013 foi diferente. Como Azêdo era candidato à reeleição pela quarta vez consecutiva, depois de nocautear a oposição com uma série de casuísmos espúrios, os relatórios da Diretoria e do Conselho Fiscal foram mantidos em segredo até o fim da sessão.
Travestido em locutor de turfe, o presidente da ABI leu então os documentos a galope, pulando vários trechos, como se transmitisse uma corrida de obstáculos, no Jockey Club Brasileiro. Não foram poucas as vezes em que elogiou a si mesmo. A auto-exaltação da sua gestão lembrava o certificado de garantia do uísque escocês vendido no Paraguai. Num gesto de confiança, os conselheiros aprovaram os documentos sem conhecer seu conteúdo.
O que teria levado o presidente da ABI a impedir que o Relatório da Diretoria fosse examinado pelo Conselho Deliberativo e pelos sócios da ABI, antes de torná-lo público, na Assembléia-Geral ?
Uma das respostas está na página 9. Ao invés de elaborar um documento técnico e informativo, despojado de adjetivos e considerações políticas pessoais, como se exige de um documento dessa natureza, Azêdo transformou o Relatório numa faca de cozinha. Como um aprendiz de magarefe saiu estripando desafetos imaginários através das páginas de uma exposição que deveria ser pautada pela objetividade e rigor no relato dos fatos.
Atacou o jornalista Domingos Meirelles, Diretor-Econômico Financeiro da Casa, acusando-o de promover campanha "de descrédito e denigrição da ABI, apontando-a como centro de uma crise financeira, com base em informações mentirosas, distorcidas e inexatas". Azêdo deu a entender que a entidade está nadando em dinheiro, o que não é verdade, como se pode constatar na página 36 do próprio Relatório.
Atacou o jornalista Domingos Meirelles, Diretor-Econômico Financeiro da Casa, acusando-o de promover campanha "de descrédito e denigrição da ABI, apontando-a como centro de uma crise financeira, com base em informações mentirosas, distorcidas e inexatas". Azêdo deu a entender que a entidade está nadando em dinheiro, o que não é verdade, como se pode constatar na página 36 do próprio Relatório.
Num gesto de desvairio, o presidente da ABI não poupou também o repórter Lucas Vettorazzo, da Folha de S. Paulo , a quem procurou humilhar ao defini-lo como "jornalista desinformado". Na carta enviada à redação do jornal, no começo de abril, Azêdo já o desqualificara profissionalmente dizendo que ele não sabia escrever, atitude inaceitável para quem preside uma instituição como a ABI. No Relatório, deu ainda lições de moral, acusando a Folha de S. Paulo de fazer mau jornalismo. No dia 29 de abril atacou o repórter Cássio Bruno, de O Globo, a quem procurou apequenar, ao dizer que manipulava informação e só fazia matéria requentada.
Quando o presidente da Associação Brasileira de Imprensa agride publicamente jornalistas, e se volta, cheio de ódio, contra publicações como O Globo, a Folha de S.Paulo e o Estadão, acusando-as de estarem à serviço de interesses escusos, está na hora de se recorrer, com urgência, a um médico especialista, antes que seja tarde.
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